Três poemas de Rozana Gastaldi Cominal

Olá leitor e leitora,

E hoje quem finaliza a semana poética por aqui… sou eu. Passei as horas da última quinta-feira (ontem) revirando dúzias de páginas dos livros de poesias que publiquei desde 2014. Foi um processo delicioso. Revisitei processos-projetos… senti o corpo ser atingido por alguns abalos sísmicos, como tanto gostos. Ouvi trovões e senti o ressoar do carrilhão da minha infância. Tudo isso serviu para que eu retornasse as páginas do livro que resultou do primeiro desafio de poesias que eu promovi na Scenarium, que é um dos meus Coletivos favoritos: Nascer pela segunda vez…

E a poesia de Rozana Gastaldi Cominal acenou como resposta a todas essas sentimentalidades… coisas que apenas a poesia faz comigo. E creio que nem preciso dizer isso a quem me conhece. Mas como escrever em um blogue, é anunciar-se para uma multidão de ninguéns — amo essa palavra e como ressoa em meu íntimo com uma intensidade tipicamente dickinsoniana.

Boa leitura e até a próxima!

1

Ao nascer
cortam-me o cordão umbilica
Nascente
deságuo no mundo
em busca de amor incondicional

2

Diante das incertezas,
o tempo apenas ri de mim.
Mesmo cativa, condição involuntária
busco minha carta de alforria.

3

Ação imprevista.
Correr os riscos.
O que nos move hoje?
Dividir. Multiplicar.
Somar. Subtrair.
Seja qual for a operação
 — viver é perder!

Três poemas de Obdúlio Nuñes Ortega

Olá leitor e leitora,

E hoje quem desfia suas escolhas por aqui… é a mulher-poeta-prosadora Rozana Gastaldi Cominal — autora do livro Mulheres que voam… com a palavra, a poeta:

Sentada ainda a folhear o livroAndarilha –, assim como o poeta observo ao redor, não há trilha indolor nem mesmo no reino mineral, variadas reações químicas levam à extinção total. Aceito que as células andarilhas dos reinos animal e vegetal sentem dor, que as palavras estremecem nossos sentidos porque, apesar da dor, continuamos vivos. Até a morte, o gozo final queira ou não.

Rozana escolheu os versos escritos por Obdulio Nuñes Ortega, capitaneados pelo título Andarilhador

Boa leitura!

1

Andarilha

é a minha dor

sou eu quem ando com ela

ou sou por ela

que continuo a caminhar

(..)

Meu amor é dor

minha alegria é dor

meu desejo é dor

(…)

a coisa mais solitária que existe

egoísta pessoal e intransferível

é minha e de mais ninguém…

2

(…)


me percebo ridículo de humana dor
em busca de amor e aceitação
de amar a si sem conseguir
tento encontrar nexo ou conexão
com o meu entorno
aprisionado aso olhos por trás das lentes
dos óculos muitas vezes finjo
não ser míope a não ser um andarilho
perdido em mim não me enxergo
me entristeço por ele que sou eu e não é
ainda curioso após seis décadas de vida
respeito essa expressão vital
porque existe a palavra e quero saber
até onde ela me levará
se até eu ficar mudo
e o que escrever se transformar
em nuvens silenciosas de paisagens
nunca vistas por serem evidentes demais
e tão desprezíveis quanto o ar

(…)

3

Viajo de flor em flor
morrerei com o mundo quando me matarem
sou um ser em morte lenta andarilha de biomas
deixarei de beijar polenizar transmitir
genes cores respirares florescimentos
de mato em nata manta de verde retinto
me tornarei um ser extinto
e extinguirei em dor que não será apenas minha
o silêncio permanente atacado por meteorito
incandescente em forma de homo sapiens
voos interrompidos de zangões
os zumbidos de operárias sem abelhas-rainhas
a lhe servirem a servirem nossos matadores
arrasadores de quarteirões continentes
hemisférios o planeta inteiro
final paralisado sem zunzuns e vai-e-vens
asas petrificadas a serem descobertas
por futuros arqueólogos aliens
exploradores de vales ressequidos
do corroído planeta morto…

Três poemas de Mariana Gouveia

Olá leitor e leitora,

Hoje é dia de Suzana Martins — autora do livro (in)versos — escolher 03 poemas… E a mulher-poetas das marés escolheu o livro O Lado de dentro, da poeta-pássaro-mulher: Maraina Gouveia… que nos proporciona belos vôos por suas sentimentalidades

Boa leitura!

Meu Quintal

O dia estava disfarçado de Chuvas.
Ave, reza…


e eu caí para dentro de sua sede
Fui saliva corpo adentro.
Ave, bem…

Te vi… tal qual textura no espelho
na estranheza das estações
no desaguar das nuvens.

Ave, sou!

Me permita

Me permita,
…arrumar o canto direito
de mim, onde teus vazios
e silêncios moram.


Quero ajeitar tua presença.
Deixar em um lado
…onde não faça tanta falta
E nem seja necessário
trocar de lugar cada vez que
tua Ausência doer.

Vou te colocar pela metade,
até quando se esvair inteiro
ou quando já nem lembrar mais
que Você estava ali.
Queria te trocar por — outra — essência,
outra cara, outro gosto!
Outra lembrança.

Outra flor… mas, todo sol
lembra você. E aqui é sol
o tempo inteiro — suor…
E todo suor lembra sal
E todo sal… me lembra você!

Me permita te trocar de prateleira.
Te colocar na mais alta,
onde eu não alcanço o
segredo guardado…


Me permita jogar a chave fora.
Para lembrar menos: você.

Sísmica

Alguma coisa acontece
no interno do onde
Do lugar que te escondo
para depois te buscar

É um quase um abalo
é química
Sísmica, terremoto intenso
te amar

O peito abala, embala
percebe quando você está
Desmorona meu teto
me torno objeto teu

Um chão que se abre
escombro
queria seu ombro

Mas o epicentro foi fatal
e eu me lembro sempre do
emocional encontro entre
um nome e um homem…

Entre a palavra e o poeta
e a fresta.  A porta aberta
e a escala de Richter
interno em mim.

Três poemas de Nirlei Maria Oliveira

Olá leitor e leitora,

Dando continuidade a nossa semana poética… hoje é dia de Flávia Côrtes — autora do livro amor sem mestre — nos indicar 03 poemas… E a mulher-poeta-soteropolitana escolheu o Coletivo de poesias Andarilha, que foi organizado pela querídissima Anna Clara de Vitto nesse insano 2022…

E das deliciosas páginas desse livro, vieram os poderosos versos de Nirlei Maria Oliveira… e suas linhas nomeadas:

DA MINHA BOCA VERMELHA NASCEM PALAVRAS CAMINHEIRAS

Boa leitura!

1

a poesia vagueia

pelas 

minhas

veias e artérias

(A)

morosamente

— se —

desloca por todo o meu corpo

inebriado

a poesia vagueia

pelas 

minhas

veias e artérias

(A)

morosamente

— se —

desloca por todo o meu corpo

inebriado

2

sigo

em jornada

imune ao peso

— concreto —

dos dias de marasmo

insano

3

das

entranhas

do meu corpo

vertem palavras

férteis

delírios sensações

em

 versos pulsantes

viajantes

Três poemas de Suzana Martins

Olá leitor e leitora,

Esta será uma semana poética aqui no blogue. Eu convite as Poetas da Scenarium para selecionar versos dos livros por nós publicados. Serão 3 poemas por dia… e começamos hoje, porque segunda-feira é o famoso e inspirador dia da lua…

Nirlei Maria Oliveira — autora de Palavr(Ar) –, escolheu o bélissimo livro (in)versos… de Suzana Martins e após folhear cada uma das páginas do livro, escolheu os poemas abaixo:

Boa leitura!

Menina de asas

Eu ansiava voar
como os pássaros
na imensidão do céu.
Imitei voos livres
que pareciam asas de águia
tatuadas em minhas costas
como uma simples farpa
na existência da liberdade
cravada em mim.

Sem penas e asas,
exalando coragem,
celebrei um voar silente
naquele céu atrevido e livre.

Tão sentidas as minhas asas,
que em um suspiro
lânguido e sereno
desperta palavras soltas
escritas em meus beirais.
Magnetismo liberto
no infinito azul.

Em um voar sublime,
trocam-se as asas
pelas palavras
e o que era tatuagem,
hoje são versos
que sobrevoam o papel.

Com a liberdade passeando dentro de mim
mesmo estando longe do céu,
aprendi com as palavras
o que eu não consegui com as asas: voar!

Testamento

Deixo as minhas letras embaçadas
o meu coração pulsando
e todas as memórias
de outono que escrevi
no litoral.

Ps.:
Não esqueça o potinho
de mar, água, areia e sal
que deixei na gaveta da estante.

Lá longe,
onde sol se põe,
ficam as minhas asas
adormecidas, intactas,
quase cansadas
esperando as palavras
e os versos
de um dia de outono.

Ali, onde o sol dorme
ensaio voos,
ajusto as nuvens,
desafio o canto
e sigo alto
para rasgar
o medo que
habita em mim.

Te amei à meia-noite
no escuro
no silencioso suspiro.

Te amei nas flores,
no toque sensível
no desejo infinito.

Te amei nas lembranças
à beira mar
no eclipse da lua
e nos labirintos
dos desejos
provocados por nós.

Te amei na areia
no mar, amar
na rua,
a todo instante
fui tua.

Toque

A tua palavra arrepia
a minha derme
e pulsa o querer
das nuances pretéritas
de tua geografia.

O toque suave
dos teus lábios adormece
em minha boca
o querer profundo
da tua atmosfera.

O teu céu
é um poema
de constelações absurdas
e um expoente
de amor sem fim.

O teu toque
é o meu arrepio,
o teu beijo
é o meu verso
sem rima
abraçado ao
teu poema
que pulsa na
ponta do sentir.

Conjugo o amor
no teu verbo
no teu sexo
na tua graça
na tua boca
nua e quente.

Falo de amor
com o teu beijo
com o teu toque
sem pressa,
na fluidez
do arrepio
sinto o pulsar
na derme.

Conjugo o amor
na tua boca
na tua pele
no teu sexo
que exala
em mim.

Você e eu,
frente e verso.

Avesso e inverso.

Você e eu
frente a frente
boca a boca
sexo a sexo
amor e desejo.

Você e eu,
frente e verso,
no avesso dos ponteiros,
em busca do amor
que escorre na boca
entre os dedos
no pulsar da pele
no arrepio do sentir.

Você e eu:
na ardência do desejo
à frente, ao avesso
ao reverso…

Você. Eu.
Frente. Verso.
Sexo. Desejo.
Amor. Vontade.
Pulsar. Gozo.
Querer. Arrepio.
Amar…

Você e eu
prazer!