Cartas para Abril  | Herberto Helder

Herberto Helder

biografia e poesia

Desafio de Contos Lésbicos

Scenarium

O Coletivo Amora pretende celebrar o Amor… entre mulheres! Narrar a conquista, a sedução, o desejo, os encontros e desencontros e o prazer de ser amada por outra que é igual e diferente…

Participe com o seu conto…
Organização. Lunna Guedes e Suzana Martins

Cartas para Abril  | Ana Luisa Amaral

Ana Luisa Amaral

biografia e poesia

Cartas para Abril  | João Luís Barreto Guimarães

João Luis Barreto Guimarães

biografiae e poesia

Cartas para Abril  | Maria Sousa

Maria Sousa

biografiae e poesia

Três poemas de Heloisa Helena Garcia

Paulistana da gema, nasci no bairro da Bela Vista. Passei por outros bairros, mas sempre vivi em apartamentos, e, talvez por isso, adoro olhar a cidade do alto, apreciando a combinação de pessoas, ruas, árvores, postes, casas, prédios em diferentes perspectivas. Quando escrevo, o movimento é semelhante, voltado para dentro, explorando diferentes perspectivas de mim, da minha história e das minhas relações. Escrevo sobre o que penso e sinto, dos lugares (in)completos de mulher, filha, esposa, amiga e mãe. Desde 2020, participei de algumas coletâneas, assumindo meu lugar de escritora, que dá expressão e sustentação a todos os outros.

RAÍZES  

Caminho inteira e sozinha pelo parque quase deserto.
Bendigo a chuva recém caída no solo úmido e fértil.
O céu se move num acolchoado denso de nuvens sobrepostas.
Tons de verde e cinza se mesclam numa harmonia fria que agrada meus olhos.
No tapete de folhas, o tempo se revela em amarelo, ocre e grená.
Observo o enlace das raízes — grossas, curvas, ásperas —
que em seus caminhos cruzados,
se abraçam,
se compreendem,
se perdoam.
Qual graveto fresco e frágil, me reconheço pequena e sedenta aprendiz.

TRANSFORMAÇÃO

Madrugada.
Acordo de um sonho agitado: preciso abrir espaço para o sono poder voltar.
Me arrasto até o banheiro, sem incomodar os que dormem.
Escrevo com pressa, antes que a lâmpada trêmula se apague.
Volto para a cama macia, ainda morna.
O ronco suave do frigobar; os pingos de chuva marcando o tempo.
Alguém ressoa baixinho ao meu lado.
Estou mais calma: o que era incômodo se tornou presença.

ANOITECER DA ALMA  

É hora 
de acalmar o peito, desfazer o laço, afrouxar o passo.
Já é hora 
de acolher o tempo, abaixar o fogo, escutar o céu.
É hora, sem demora 
de se recolher, reconhecer e desapegar.
É chegada a hora, agora,
em que para ser eu é preciso desatar o nós.

Desafio de Poesias: Mulher de nuvem

Scenarium

A poesia é um corpo que fala, sente e se movimenta por versos ou através dele.

O que se pretende nesse Coletivo é que a Mulher escreva-se enquanto pele sensível ao toque, ao tempo, ao lugar, as emoções, ao outro, a si mesma e nos exiba a sua Nuvem em 05 poemas que juntos sejam uma mesma matéria densa e intempestiva, como apenas as mulheres o sabem Ser..

Participe com a sua poesia… seja pele-avesso-desejo!
Organização. Anna Clara de Vitto

Quatro poemas de Nirlei Maria Oliveira

Sou aquariana que gosta de viver nas dobras das nuvens para sentir as asas e o cheiro inebriante da liberdade.

Apresenta sérias dificuldades para manter os pés no chão. Prefere sonhar acordada ou fantasiar-se de Alice no País das Maravilhas para brincar nos jardins do mundo real.

insônias e rotinas

horas tardias
não há ninguém — lá fora —
— o silêncio persiste —

olhos postos na janela a pressentir — o tempo —
a enfrentar lonjuras e pensamentos dispersos

e, ainda assim, mirar e mirar
a paisagem — mundo — de nós
no tom sépia dos retratos

valiosas urgências e emergências
sejam estas: contar
e recontar — estrelas e lua

quase dormir e amanhecer com olhos de ontem
ocupar-se com as miudezas diárias
e tragar o amargo da rotina

não aprendo a conviver com as horas
insones e dias iguais

(prefiro o brilho da lua e das estrelas
ao ofício das repetições)

gatos rondam a rua

sintomas, apenas sintomas 
de alegria
de euforia
de alforria

assim, amanheço
revestida deste sol insistente de quase 10h
que entra pelas janelas abertas e se
espalha pelo quarto

preciso
habitar as urgências das manhãs
como quem volta da guerra
com sede voraz de viver — o hoje —

vestida para:
atravessar armada de versos
— as ausências —

encher a boca
com versos entre os afiados dentes
morder palavras inquietas e observar a paisagem morna
que entra pelas minhas retinas, ainda sonolentas

ainda assim, sigo rituais das manhãs:
repetição repetição repetição
quem sabe o sagrado permanece

queimar velas e incensos para os anjos e
para os vivos
assim, apenas assim, o dia começa

despeço da casa
pés na soleira da porta
ir sair partir ir

gatos rondam a rua
cumplicidade e silêncio

Dos ritos

ritos primeiros

amanhecer os desejos
e romper o riso

jogar dados com o tempo
e perder
o rumo o ponto a linha
o siso o sono e as horas

ancorar os dias
em horizontes sem bordas
rasantes ou minguantes
desaguar vontades em solos
porosos e férteis

rito solene

beber o sol lentamente
quebrar a taça e rir das (in)certezas

rito perene

o cotidiano
— é para ser brincante —

Brotos botões rebentos

caminhamos pelas bordas — tempo suspenso —
andamos incautos por margens e fronteiras
tudo é incerteza na — soleira do amanhã —

a luz
 — insurgente —
reverbera nos vãos e desvãos do agora

— lá fora — 
pela janela aberta minhas retinas turvam
explodem rebentos de flores
 — rebentação —

ainda há tempo para destorroar a terra
 — nada brota sem semeadura —

Três poemas de Rozana Gastaldi Cominal

Mantém os sentidos em alerta: Eu vejo. Sinto. Vivo. Ufa! Respiro. E não piro. Suspiro! Escreve porque sonha com uma sociedade menos desigual onde o respeito mútuo seja a base do diálogo, onde a poesia  e a sororidade estejam na ordem do dia. Acredita na força dos coletivos e com eles  faz voz. Autora do livro de poesias “Mulheres que voam” , Scenarium, 2022. Participou dos Coletivos da Scenarium Nascer pela segunda vez (2021), Andarilha e da edição da Revista Plural Cartografias das sombras (2022).

Facebook: https://www.facebook.com/rozana.cominal
Instagram: https://www.instagram.com/rozanagastaldi/

violeta & malagueta

consumo-me em atitudes
e sentimentos adversos
penso
não ando
estanco
sinto
movo
removo o flanco

metamorfose dialética
violeta e malagueta
genial e geniosa
estupenda e estúpida
eufórica e neurótica
sensual e sexual

razão enigmática
consinto que sou volúvel
mas não irresponsável
assumo o que sou
assumo o que faço
não é por acaso
que tenho um caso
com o caos

Do livro Mulheres que voam

Ao renascer
conecto-me com o universo ao redor
Outra vez em  guarda e (or)ação
sobrevivente sou
vidas que esgarçam e entrelaçam

Do Coletivo Nascer pela Segunda vez

trajetória insubmissa

corpo leve
circunscreve
branco como neve
ultraleve
peso pesado
lesado

caminho tortuoso
que se lança
que dança
que tensiona
que flutua
que insinua

tela escultural
forma harmoniosa
coluna vertebral
geometria sinuosa
curva espiral
corpo que pensa

Desafio de Poesias eróticas

Scenarium

Deixe a sua poesia seguir o caminho da pele, através do desejo e nos conduza pelas fantasias da matéria e a sensualidade da alma. para o nosso imaginário…

No Coletivo Liláses, que será o primeiro a celebrar a poesia erótica, queremos o belo, no auge de sua voz poética.

Participe com a sua poesia… seja pele-avesso-desejo!
Organização. Lunna Guedes

Barquinho de Papel  | Delírios de papel

A brisa entrou pelas janelas e trouxe memórias que estavam guardadas em baús revirados de saudade. O perfume sutil daquela flor no quintal, a cor do céu — em seu revezamento sublime entre o azul e o cinza — e as cortinas bailando com o vento chegam até mim feito lembranças agridoces de todas as minhas nostalgias pretéritas.

Recordações afloradas na ponta do lápis. Pequenos fragmentos de mim daquela que fui, ainda criança, a bailar solitária pelo quintal em tardes tempestivas.

Olho pela janela das minhas memórias e observo a chuva fina colorindo a tempestade. Entre uma nuance e outra, algumas histórias aparecem bordando elementos no papel. Tomo nota.

Admiro paisagens distantes. Revivo o passado e, longe do presente, aprecio aqueles olhos pequenos a brincar com um mar desenhado de giz de cera, um barquinho de dobraduras e água salgada espalhadas pela imaginação.

No delírio das horas infantis, sem preocupações ou receios, a cidade acendia a luz e um barco navegava iludido até os anéis de Saturno. Eu, até mesmo na versão criança, vivia à procura da lua. Velejava sem medo, com a estrela guia a derramar caminhos de água salgada a beira da tempestade. Planetas inteiros imersos na ilusão do vento a bailar com um veleiro feito de papel amassado e algumas palavras impressas em livros esquecidos.

A proa molhada, o timão girando e o sol inerte sem querer abraçar o dia, apenas gotas de chuva num universo cheio de estrelas insanas… em desvario.

Agora entendo por que sinto-me ligeiramente atraída pelas noites tempestuosas… essas em que os raios rasgam o céu e a chuva derrama músicas pelo telhado. Compreendo, ou apenas finjo compreender! São as minhas memórias infantis a resvalar histórias inventadas em tardes planetárias… alucinação, frenesi ou uma velha miragem daquele mar projetado numa bacia cheia de águas tingidas de azul.

Todas essas narrativas salgadas que moram em mim são formas em alto relevo. Ou simplesmente algumas gotas transformadas em mares de cristal e um espelho a refletir o céu em ondas. Um oceano inventado, um barco dobrado e palavras cantaroladas por alguém tão pequeno a imaginar finais incalculáveis.

Pequenos eus relatando mundos imaginários.
Levanto. Caminho até a janela das minhas memórias… as árvores que sombreiam o jardim, são companhias perfeitas, testemunhas de todos os devaneios inventados ao ar livre. Paro. Anoto detalhes. Presencio cenas. E, no rasgar do raio, mergulhada em pensamentos de minha infância, deixo a brisa acariciar o meu presente no abstrato do que um dia fui. Estou imersa na ilusão daquilo que me tornei.

As tempestades que acontecem fora do meu mundo são as mesmas que acalmam essa saudade a invadir minha derme. Barquinhos de papel jogados ao mar em noites de chuva seguem sua rota e chegam intactos ao seu destino. Temporais que habitam o meu delírio a imaginar lembranças agridoces.

Suzana Martins... Jornalista e designer por ofício. Escritora e fotógrafa por paixão e mera curiosidade lúdica. Participou da 1ª, 2ª e 3ª edição do projeto Diário das Estações e outras antologias. Autora do blog Minhas Marés e do zine poético Dias de Victória. É também a voz do podcast Espresso Poesia. Desde pequena, ama ouvir histórias, escrever e recitar versos. Acredita na arte como veículo de transformação interna e externa.

As Estações  | Da Pele

Em sua derme
traços de sol
gotas de sal
e o aroma das ondas
a mergulhar no mar.

Em seu corpo
um oceano inteiro
a exalar pelos poros
maresia, areia
verso salgado
e delírios perfumados.

Em sua pele salgada
mar, areia, água e sal
a iluminar detalhes
de um sol que nunca se põe.

A minha derme pulsa
um oceano inteiro
de saudades.


O meu corpo desenha
nostalgias geográficas
da maresia azulada
do litoral.
O meu sorriso
é um verão esquecido
ancorado em alto mar.

A minha tatuagem
tem nas entrelinhas
aquele verão salgado
em que o mar
incendiou
desejos marítimos
de nós.

A minha derme
respigada de sol
tem o desenho
do teu corpo
traços do teu cheiro
textura da tua pele
vontade explícita
de nós.

Suzana Martins... Jornalista e designer por ofício. Escritora e fotógrafa por paixão e mera curiosidade lúdica. Participou da 1ª, 2ª e 3ª edição do projeto Diário das Estações e outras antologias. Autora do blog Minhas Marés e do zine poético Dias de Victória. É também a voz do podcast Espresso Poesia. Desde pequena, ama ouvir histórias, escrever e recitar versos. Acredita na arte como veículo de transformação interna e externa.

As Estações  | Da Alma

A carta foi escrita
com os espinhos
que ninguém plantou.

Antecipei a primavera
dentro do verão.
Replantei as sementes todas
para quando o equinócio chegasse.
A alma vaga dentro da solidão
de uma estação inteira.

Em uma única flor,
colhi a Primavera
camuflada em sementes.

Mariana Gouveia… pessoa adoradora de lua, borboletas e joaninhas. É dona de um beija-flor chamado Chiquinho que em algumas noites dorme em suas mãos. É a humana de Lolla e Yoshi, os cães que domaram seu coração para além dos voos. Sonha com os pés no chão. É marítima sem nunca ter conhecido o mar. É de rio e de terra. Do ar e do vento…Tem horas que pensa que é apenas uma, mas acontece que dentro dela moram várias… 

Três poemas de Rozana Gastaldi Cominal

Olá leitor e leitora,

E hoje quem finaliza a semana poética por aqui… sou eu. Passei as horas da última quinta-feira (ontem) revirando dúzias de páginas dos livros de poesias que publiquei desde 2014. Foi um processo delicioso. Revisitei processos-projetos… senti o corpo ser atingido por alguns abalos sísmicos, como tanto gostos. Ouvi trovões e senti o ressoar do carrilhão da minha infância. Tudo isso serviu para que eu retornasse as páginas do livro que resultou do primeiro desafio de poesias que eu promovi na Scenarium, que é um dos meus Coletivos favoritos: Nascer pela segunda vez…

E a poesia de Rozana Gastaldi Cominal acenou como resposta a todas essas sentimentalidades… coisas que apenas a poesia faz comigo. E creio que nem preciso dizer isso a quem me conhece. Mas como escrever em um blogue, é anunciar-se para uma multidão de ninguéns — amo essa palavra e como ressoa em meu íntimo com uma intensidade tipicamente dickinsoniana.

Boa leitura e até a próxima!

1

Ao nascer
cortam-me o cordão umbilica
Nascente
deságuo no mundo
em busca de amor incondicional

2

Diante das incertezas,
o tempo apenas ri de mim.
Mesmo cativa, condição involuntária
busco minha carta de alforria.

3

Ação imprevista.
Correr os riscos.
O que nos move hoje?
Dividir. Multiplicar.
Somar. Subtrair.
Seja qual for a operação
 — viver é perder!

Três poemas de Obdúlio Nuñes Ortega

Olá leitor e leitora,

E hoje quem desfia suas escolhas por aqui… é a mulher-poeta-prosadora Rozana Gastaldi Cominal — autora do livro Mulheres que voam… com a palavra, a poeta:

Sentada ainda a folhear o livroAndarilha –, assim como o poeta observo ao redor, não há trilha indolor nem mesmo no reino mineral, variadas reações químicas levam à extinção total. Aceito que as células andarilhas dos reinos animal e vegetal sentem dor, que as palavras estremecem nossos sentidos porque, apesar da dor, continuamos vivos. Até a morte, o gozo final queira ou não.

Rozana escolheu os versos escritos por Obdulio Nuñes Ortega, capitaneados pelo título Andarilhador

Boa leitura!

1

Andarilha

é a minha dor

sou eu quem ando com ela

ou sou por ela

que continuo a caminhar

(..)

Meu amor é dor

minha alegria é dor

meu desejo é dor

(…)

a coisa mais solitária que existe

egoísta pessoal e intransferível

é minha e de mais ninguém…

2

(…)


me percebo ridículo de humana dor
em busca de amor e aceitação
de amar a si sem conseguir
tento encontrar nexo ou conexão
com o meu entorno
aprisionado aso olhos por trás das lentes
dos óculos muitas vezes finjo
não ser míope a não ser um andarilho
perdido em mim não me enxergo
me entristeço por ele que sou eu e não é
ainda curioso após seis décadas de vida
respeito essa expressão vital
porque existe a palavra e quero saber
até onde ela me levará
se até eu ficar mudo
e o que escrever se transformar
em nuvens silenciosas de paisagens
nunca vistas por serem evidentes demais
e tão desprezíveis quanto o ar

(…)

3

Viajo de flor em flor
morrerei com o mundo quando me matarem
sou um ser em morte lenta andarilha de biomas
deixarei de beijar polenizar transmitir
genes cores respirares florescimentos
de mato em nata manta de verde retinto
me tornarei um ser extinto
e extinguirei em dor que não será apenas minha
o silêncio permanente atacado por meteorito
incandescente em forma de homo sapiens
voos interrompidos de zangões
os zumbidos de operárias sem abelhas-rainhas
a lhe servirem a servirem nossos matadores
arrasadores de quarteirões continentes
hemisférios o planeta inteiro
final paralisado sem zunzuns e vai-e-vens
asas petrificadas a serem descobertas
por futuros arqueólogos aliens
exploradores de vales ressequidos
do corroído planeta morto…

Três poemas de Mariana Gouveia

Olá leitor e leitora,

Hoje é dia de Suzana Martins — autora do livro (in)versos — escolher 03 poemas… E a mulher-poetas das marés escolheu o livro O Lado de dentro, da poeta-pássaro-mulher: Maraina Gouveia… que nos proporciona belos vôos por suas sentimentalidades

Boa leitura!

Meu Quintal

O dia estava disfarçado de Chuvas.
Ave, reza…


e eu caí para dentro de sua sede
Fui saliva corpo adentro.
Ave, bem…

Te vi… tal qual textura no espelho
na estranheza das estações
no desaguar das nuvens.

Ave, sou!

Me permita

Me permita,
…arrumar o canto direito
de mim, onde teus vazios
e silêncios moram.


Quero ajeitar tua presença.
Deixar em um lado
…onde não faça tanta falta
E nem seja necessário
trocar de lugar cada vez que
tua Ausência doer.

Vou te colocar pela metade,
até quando se esvair inteiro
ou quando já nem lembrar mais
que Você estava ali.
Queria te trocar por — outra — essência,
outra cara, outro gosto!
Outra lembrança.

Outra flor… mas, todo sol
lembra você. E aqui é sol
o tempo inteiro — suor…
E todo suor lembra sal
E todo sal… me lembra você!

Me permita te trocar de prateleira.
Te colocar na mais alta,
onde eu não alcanço o
segredo guardado…


Me permita jogar a chave fora.
Para lembrar menos: você.

Sísmica

Alguma coisa acontece
no interno do onde
Do lugar que te escondo
para depois te buscar

É um quase um abalo
é química
Sísmica, terremoto intenso
te amar

O peito abala, embala
percebe quando você está
Desmorona meu teto
me torno objeto teu

Um chão que se abre
escombro
queria seu ombro

Mas o epicentro foi fatal
e eu me lembro sempre do
emocional encontro entre
um nome e um homem…

Entre a palavra e o poeta
e a fresta.  A porta aberta
e a escala de Richter
interno em mim.

Scenarium 8 | 2022

mosaicum (poesia e prosa) casa de vidro (contos) as estações (poesia)
barquinho de papel (prosa) manifesto-me (crônicas) nas nuvens (poesia e prosa)
o ano do gato (contos) em mãos (correspondência)

livro 01

Organizado por Lunna Guedes, essa edição convidou os autores a poesia e a prosa… os autores: Adriana Aneli, Nirlei Maria Oliveira, Flávia Côrtes, Obdulio Nunes Ortega, Caetano Lagrasta, Anna Carriero, Lígia Libaneo, Anna Clara de Vitto, Yara Fers, Joakim Antônio, Isabel Rupaud,Roseli Pedroso, Mariana Gouveia.

O resultado são poesias em páginas azuis e uma narrativa que se oferece enquanto trovão no azul…

livro 02

Quem conta um conto, aumenta um pouco e foi partindo dessa premissa que Lunna Guedes convidou Adriana Aneli, Carol Favret, Flávia Côrtes, Isabel Rupaud, Mariana Gouveia e Obdulio Nuñes Ortega para escrever narrativas a partir de um conto — o fio condutor de Casa de vidro, tão frágil quanto as emoções dos personagens que cicularm de conto em conto…

livro 03

Um livro de poesias que reúne 04 poetas da Scenarium Flávia Côrtes, Mariana Gouveia, Nirlei Maria Oliveira e Suzana Martins e suas estações da pele, da alma, do cuore e da alma…

livro 04

A idéia para esses cadernos de contar histórias foi uma dobradura colocada por uma criança numa poça d´água — despertando memórias. Veio o convite a prosa: Adriana Aneli, Bianca César, Isabel Rupaud, Lua Souza, Mariana Gouveia, Rozana Gastaldi Cominal e Suzana Martins aceitaram conduzir seus barquinhos de papel por esse mar de páginas…

livro 05

Lunna Guedes teceu o convite, uma crônica por semana, propondo os temas que cada autor levou na direção que quis, propiciando um olhar para muias paisagens…

Escreveram-se: Flávia Côrtes, Isabel Rupaud, Mariana Gouveia, Manoel Gonalves (Manogon), Obdulio Nuñes Ortega…

livro 06

Quando crianças, ao olhar para as nuvens, vemos desenhos de gatos, cachorros, coelhinhos, dragões… dizem que é o imaginário infantil. Mas e nós, adultos? O que vemos?

Isabel Rupaud, Lua Sousa, Mariana Gouveia, Nirlei Maria Oliveira, Rozana Gastaldi Cominal responderam com poesia e prosa…

         

livro 07

A idéia veio de Edgar Allan Poe e seu conto O gato preto que foi publicado em uma edição do Saturday Evening Post em agosto de 1843.

O conto é um estudo da psicologia da culpa…… e foi apresentado durante o encontro do Clube de Escrita da Scenarium…

Ananda Karenina, Isabel Rupaud, Lua Souza, Lunna Guedes, Mariana Gouveia, Obdulio Nuñes Ortega e Roseli Pedroso…

Sete autores, um para cada gato ou seria para cada vida?

Com ilustração de Valerie David Cats e poesias de Flávia Côrtes, Jorge Luís Borges, Patricia Highsmit, Rozana Gastaldi Cominal e Wislawa Zymborska.

livro 08

Uma troca de correspondência iniciada por Lunna Guedes… que escreveu ao vento e esperou por respostas para iniciar a aventura em linhas entre diferentes geografias, anatomias…

Responderam ao aceno: Flávia Côrtes, Mariana Gouveia, Rozana Gastaldi Cominal e Suzana Martins…

Cartografia das Sombras (pré-venda)

Olá,

E a Revista Plural (edição especial de dez anos) que eu nomeei Cartografias das Sombras ficou pronta. Atrasou um pouco. Contratempos no mundo dos livros artesanais… porque um livro artesanal tem seu próprio ritmo. É feito por elementos que não estão disponíveis no tempo de Chronos… como diz a poesia de Anna Clara de Vitto, é coisa de Kairós, essa figura grega-parceira de dança, porque é disso que se trata: dar movimento as palavras que serão alinhavadas.

Para essa composição, escolhi Smells Like teen spirit como trilha sonora… e fui espalhando textos: poesias, crônicas, provocações, desaforos — tudo impresso — pelo chão da sala, num dia cinza-frio. Apertei o botão da máquina para preparar um expresso e fui ao som de Patti Smith, a dama maior do punk rock.

Na primeira página de Cartografia das Sombras, a poesia de Ana Cristina César, principal nome da literatura marginal — movimento que ficou conhecido como Geração Mimeógrafo. E a Carta ao leitor — escrita por mim — faz um tour por todos esses movimentos undergrounds, que alimentou a minha vontade pelo artesanal.

Lua Souza estréia na Plural com Cartografia e, como numa brincadeira de ioiô, nos leva para o passado e traz de volta, alinhavando lembranças através de um presente dado por uma amiga. Eu escrevi um desaforo a partir do poema Motivo de Cecília Meireles e não fui a única… Isabel Rupaud, Nirlei Maria Oliveira e Rozana Gastaldi Cominal vieram comigo nesse dizer-se que nos posiciona enquanto Mulheres que escrevem e rugem…

E como toda escrita precisa de cenário, Roseli Pedroso escreveu A cidade da minha escrita e teve companhia nesse tour por lugares e paisagem de June Camargo, Nirlei Maria Oliveira, Rozana Gastaldi Cominal e até eu me aventurei nessa escrita conduzida por outro maldito: Charles Baudelaire que gritou para o mundo uma cidade muda, mais depresssa que o coração de um mortal — mas o mote foi outro, Caetano Velloso que se apoiou no modernismo de Mário de Andrade para escrever: alguma coisa acontece no meu coração.

E nas crônicas, tivemos a estréia de Lygia Geliamo Oliveira, com seu delicioso Tem coisas que come com as mãos e a ironia característica de Roseli Pedroso com Sua pulga atrás da orelha e o tom bem humorado de Zeca (José Francisco Vanucchi) que retorna a Plural, com a sua Alice socialite.

E tem mais… Carol Favret resolveu provocar o universo literário a meu convite e escreveu E aí, Leitor… HQ é literatura? E já que era para provocar, resolvi trazer de volta um tema antigo e discutir: O Erotismo na Literatura contemporânea

Haja Café, meu caro leitor!

E para fechar temos um caderno verde de Correspondência… Obdulio Nuñes Ortega escreve a respeito de uma das mais importantes obras do artista plástico Edward Hopper. Mariana Gouveia nos entrega uma carta de amor e desamor, quase uma cantiga contemporânea. Nirlei Maria Oliveira, uma bibliotecária, escreve a respeito de um livro (quem diria?) e eu escrevo à Baudelaire fechando o ciclo dos subversivos desta edição.

Ah, e tudo isso, muito bem acompanhando das poesias de Anna Clara de Vitto, Flávia Côrtes, Gabriela Lages Veloso, Juliana Ben, Lua Souza, Manoel Gonçalves (Manogon), Margarida Montejano, Nilei Maria Oliveira, Obdulio Nuñes Ortega, Suzana Martins e Rozana Gastaldi Cominal.

Boa leitura!

Bel Jaccoud

Bel Jaccoud é mulher, mãe solo de Bento, cantora, poeta e artista do corpo suzanense do extremo leste de São Paulo, recita e partilha suas escritas nos saraus e encontros, suas poesias evocam as mulheres, as liberdades, as cores da bandeira LGBTQIA+, da qual ela também abriga, são sobre resistência, amor e outras prosas.

Lava é um caderno de poesias alinhavado com fita de cetim que é sobre brasa e sobre marés!

Com vocês, Lava

R$ 31,00