Leitura comentada  | O amor sem mestre

Olá,

Estamos de volta e no melhor estilo… com o nosso encontro mensal: Leitura comentada. E par começar oo primeiro capítulo de 2023, eu e Suzana Martins iremos comentar (na próxima sexta-feira, às 19h30) o livro O amor sem mestre… um conto de fadas as avessas, onde o Príncipe vira um Sapo.

Na ficção curta escrita por Flávia Côrtes, a personagem da trama, acredita estar diante de um homem maravilhoso — o melhor dos espécimes. O desejo de ser amada e de se sentir desejada — que habita na maioria das mulhers — impede Luziana de perceber a emboscada que é relacionar-me com um suposto Príncipe…

“O Amor sem mestre” conta a história de uma jovem romântica. Luziana, como muitas meninas apaixonadas, imaginava viver um conto de fadas. Mas a carruagem virou abóbora muito antes da meia-noite. Sem fada madrinha ou sapatinho de cristal, ela precisou encarar o sapo que beijou pensando ser um homem.

 Anota aí, dia 20 de janeiro, às 19h30

Scenarium 8 | Coletivo As Estações

Mariana Gouveia

As Estações… Da Alma

Nirlei Maria Oliveira

As Estações… Do Cuore

Suzana Martins

As Estações… Da Pele

As Estações  | Da Memória

nascida em março
sob o signo de Áries
fruto de um desejo junino
unilateral…
do lado de fora
um estouro de bomba
rasgou o silêncio
da madrugada
e acordou
uma vontade
exilada
quase desistente
de amar

não cansava de ouvir
a curiosa história
da mulher concebida
na véspera de São João
ocasião de música e dança
tradição lá no Nordeste…
até antes do incêndio
gostava de imaginar
o encontro de gametas

          [numa roda de baião]

inscrito no DNA
mas depois do fogo
nada mais parecia fazer sentido

era também outono
quando as labaredas
tomaram conta de tudo
único legado
a aridez de dentro
durou dez voltas em torno do sol
nada crescia…
dias sempre iguais
destoando
da alternância de fora
um rigoroso inverno
antecipado

Flávia Côrtes é de Salvador/BA e é intensa por natureza. Servidora pública como Drummond, tem orgulho de poder também fazer diferença nesta posição. Herdou das mulheres fortes de sua família sua grande Fé na Vida e, após longo período de aridez, redescobriu o poder de sua voz. Integra a Cia Subversiva de Dizedores de Versos, o Coletivo Nua Palavra. Participa de diversas antologias e coletâneas como coautora e em 2022 estreou como organizadora de obras coletivas. Para ela a conexão com Deus e consigo mesma é o que dá sentido à vida e a faz perceber as flores no caminho. A escrita? Considera-a um instrumento de autoconhecimento e cura.

A arte salva!

CASA de vidro  | A jovem pupila

Dezesseis horas de um domingo ensolarado: dia de Festa da Padroeira na cidade. Dois anos haviam se passado desde que Iolanda ficou viúva e, não obstante todo respeito que tinha conquistado no período, o padre insistia em continuar atazanando Dona Ioiô e o seu jeito peculiar de lidar com as coisas.

Seu estoque de paciência estava no fim, mas a pedidos, continuava à frente da parte gastronômica da Feirinha do Bem, que acontecia todos os anos no Salão Paroquial.

A Igreja Matriz estava lotada de fiéis que, ansiosos, aguardavam pela última missa do dia.
Maria Ferdinanda, uma jovem de 16 anos, havia chegado na cidade há menos de uma semana, mas, muito comprometida com os hábitos católicos, lá estava com a mãe para agradecer uma graça alcançada.

Dona Ioiô, que nunca havia conversado com nenhuma das duas, decidiu que se apresentaria ao final da missa.
Tudo corria bem até o momento da comunhão.

Nanda, como era chamada pela mãe, trajava uma saia pouco acima dos joelhos e uma blusa estampada. Na fila, estava atrás de sua mãe e a frente de Dona Ioiô.

Concentrada, a moça entoava o cântico respectivo, um de seus preferidos. Sua mãe recebeu a hóstia e voltava para o seu lugar, quando o padre, apontando para um centímetro de barriga da jovem, disse-lhe que ela não poderia comungar vestida daquele jeito. 

Sem entender a reação do padre, a moça não disse nada. Saiu da fila, cabisbaixa e com os olhos cheios d’agua.

Alguns vieram consolar a jovem, que tentou evitar a confusão, dizendo que estava tudo bem. Dona Ioiô, no entanto, sabia que não estava e cansada das ideias pré-concebidas e injustas falácias do pároco, respirou fundo e perguntou:

— O que houve para agir de modo tão extremo, Ambrósio?
— A moça não foi devidamente educada quanto aos trajes adequados para uma missa.

A mãe de Maria Ferdinanda percebeu o que havia ocorrido, lhe deu uma banana e puxou a filha para fora da Igreja. A maioria do fiéis ficaram boquiabertos, mas nada fizeram. Dona Ioiô olhou com desprezo para o pároco, maneou a cabeça estalando a língua entre os dentes, deu as costas e acompanhou as duas. Quando as alcançou, convidou mãe e filha para um chá de boas-vindas em sua casa e se ofereceu para pôr as cartas.
O padre continuou o seu mister sob os olhares mudos e silenciosos de seus fiéis. Foi surpreendido com um envelope, que encontrou em sua mesa. Lendo o nome de quem havia enviado, disse: “Valei-me!” e caiu boquiaberto na poltrona de couro carcomido da Sacristia.

Flávia Côrtes é de Salvador/BA e é intensa por natureza. Servidora pública como Drummond, tem orgulho de poder também fazer diferença nesta posição. Herdou das mulheres fortes de sua família sua grande Fé na Vida e, após longo período de aridez, redescobriu o poder de sua voz. Integra a Cia Subversiva de Dizedores de Versos, o Coletivo Nua Palavra. Participa de diversas antologias e coletâneas como coautora e em 2022 estreou como organizadora de obras coletivas. Para ela a conexão com Deus e consigo mesma é o que dá sentido à vida e a faz perceber as flores no caminho. A escrita? Considera-a um instrumento de autoconhecimento e cura.

A arte salva!

Mosaicum  | Flávia Côrtes

o gosto do sol
escorrendo pela pele
goteja verão

as folhas no chão
anunciam a estação
hora de mudar

o inverno traz chuva
e certos transbordamentos
acontecem dentro

mulher infinita
um mar florido navega
prima que é do vento

comigo ninguém pode

Queriam-me limitada
caixinha de ritos,
conjunto de regras,
da ternura e poesia apartada.

Queriam-me educada
pra ser sempre pedra fria:
imóvel na praia
a aguardar o impulso
que me moveria.

O acento em meu nome
não me proparoxítona!
Por vezes me chamam Flá
mas há sempre uma via.

Percorro-me de todo jeito,
até trechos que desconheço.
Nesta Rota 43,
é no presente que me vejo.

Atire a primeira pedra
quem teve pretérito perfeito,
equívocos-aprendizado
jamais serão defeitos.

Buscando pavimentar o barro
que nos fez atolar no passado,
paralelepípedos instalados,
da lama que incomodou
fica só o legado.

E mesmo quando Vinha,
em nada sou diminutiva.

Sinto muito por quem lamenta
Deus ter me feito intensa.
Acolho-me, aceito-me,
(im)perfeita presença.


Por muito tempo silenciada,
sofri demais de auto-asfixia.
Se Rupi de tabus fez poesia,
por que calar eu deveria?

Prefiro ser eu mesma
e por vezes incomodar,
que me sustentar em mentiras,
ser comigo injusta pra agradar.

Quem fala erudito
mas não sabe discordar,
ignora a habilidade
de com a diversidade dialogar.

Morar em bolha ou armadura
e se valer de inverdades
é vencer de xeque-mate?

Ou usar do poder e se enganar,
é perder feio o combate?

Em defesa da míope razão,
vale distorcer a realidade?

No embalo de música boa
é a flecha do amor que lanço.

Não vago no lume, danço.
Até quando perco, eu ganho.

Por isto não (des)espero
e mesmo dorida, esperanço.

E o AR ascendente geminiano
apazigua ou alimenta meu FOGO ariano?

Cá na minha terra
planto palavras-limite
auto amor é ouro

Sigo pela vida
Escrevendo minha história
Rascunho não há

Flávia Côrtes é de Salvador/BA e é intensa por natureza. Servidora pública como Drummond, tem orgulho de poder também fazer diferença nesta posição. Herdou das mulheres fortes de sua família sua grande Fé na Vida e, após longo período de aridez, redescobriu o poder de sua voz. Integra a Cia Subversiva de Dizedores de Versos, o Coletivo Nua Palavra. Participa de diversas antologias e coletâneas como coautora e em 2022 estreou como organizadora de obras coletivas. Para ela a conexão com Deus e consigo mesma é o que dá sentido à vida e a faz perceber as flores no caminho. A escrita? Considera-a um instrumento de autoconhecimento e cura.

A arte salva!

Plural  | Fluido desapego

Flávia Côrtes

Passado
Solo fértil
a ser reflorestado
Ervas daninhas 
arrancadas
do universo de dentro
abrindo espaço
para o vazio
semeadura
Promessas de árvores 
lançadas à terra
por passarinhos
Raízes a serem cuidadas
para alcançar o céu
Nada cresce por milagre
Sementes precisam 
de tempo-alimento
para transpor a casca
assim como casulos 
não se rompem do nada
Desprender-se
do envelhecido
amortalhado
Ganhar liberdade-adubo
do próprio amor-irrigação

As Estações

Olá,

Ah, as Estações do ano. Como sabemos: são quatro: primavera e verão, outono e inverno. Ciclos completos que Vivaldi musicou. 

A primavera é a mais conhecida. 
A minha favorita é o Outono. 

Mas ouvir as quatro em sequência, pela manhã, em um dia de sol após uma semana cinza, é particularmente saboroso. 

E eu recomendo… e deixo a sugestão para você que é assinante do Clube do livro da Scenarium para que faça isso na companhia do nosso livro de Agosto:

As estações 

Reunimos 04 poetas: Flávia Côrtes e Mariana Gouveia, Nirlei Maria Oliveira e Suzana Martins e em seus sagrados versos dedicados As estações da pele e da memória, do cuore e da alma… nos conduzem por uma trama onde corpo-alma-memória-e-cuore são uma matéria-una. 

O livro foi enviado aos assinantes, mas para quem não faz parte do clube, pode encomendar a partir de hoje o seu exemplar.

01 exemplar R$ 39,90
02 exemplares R$ 60,00

Um forte abraço
Lunna

Contos

Coordenado pela editora Lunna Guedes

scenariumlivrosartesanais@gmail.com

Outro gênero literário que optamos publicar… contos. Os nossos livros tem, no máximo, 20 contos amarrados com fitas de cetim… O projeto gráfico é desenvolvido em cima do conteúdo selecionado para publicação para manter a característica principal de nossos projetos: o elemento experimental o que faz com que cada livro será único…

amor expresso

elaborada com grãos de música, poesia e cinema, como revela a “cafégrafia” ao final do livro.
Histórias que estão ali desde sempre, mas que nem sempre são notadas. Flagrantes de quem somos, poderíamos ou ainda queremos ser neste mundo de obrigações pré-fabricadas, em que mal temos tempo para um café”.

Abecedário

Abecedário, livro de contos em que o autor, Caetano Lagrasta, descreve a mesquinha realidade diária de homens e mulheres esmagados pela falta de perspectiva. Escrito nos anos 60, cinquenta anos depois a mesma cidade, as mesmas máquinas e as mesmas repartições públicas ainda pesam sobre os personagens, com o incômodo da alma que se agiganta dentro de roupas e sapatos herdados dos irmãos mais velhos.

No Abecedário, amanhã é sempre segunda-feira.

Rua 2

Pelos contos da Rua 2 passeiam personagens que se conhecem-desconhecem em sentidos contrários e direções marcadas. Vida e morte se confrontam nessa via de mão dupla. Pertencem ao mesmo caminho. Têm a mesma intensidade e propósito — provarem-se a si como senhores do Mundo/Periferia paulistana — ilusão real de todos nós, ao rés do asfalto.

O amor sem mestre

“O Amor sem mestre” conta a história de uma jovem romântica. Luziana, como muitas meninas apaixonadas, imaginava viver um conto de fadas. Mas a carruagem virou abóbora muito antes da meia-noite. Sem fada madrinha ou sapatinho de cristal, ela precisou encarar o sapo que beijou pensando ser um homem.

Fio de Prata

O Fio de Prata reúne sete contos ilustrados pelo artista plástico Ruy Assumpção, compostos por experiências reais e imaginárias, permeadas pela fantasia que a poética da vida e da literatura ilumina. Nos contos, o leitor encontrará lampejos de memórias do universo feminino que conduzem, de forma livre, à reflexão.
Os contos do Fio de Prata, publicados pela Scenarium, livros artesanais, abordam a vida na tênue linha da existência.