Quando eu decidi virar a página da minha realidade, migrando da psicanálise para a literatura… eu tinha uma certeza: iria escrever um romance. Mas, quando se pronunciei essa frase em voz alta, nem desconfiava que existia um sem-fim de diretrizes penduradas nela.
Tem gente que pensa naqueles livros intermináveis e pesados… com não sei quantas mil páginas. Enquanto outros, lembra-se daquelas leituras — obrigatórias — do tempo do colégio. Livros esquecidos em prateleiras… Eu pensava apenas na narrativa e no desafio que seria me dedicar a esse projeto-de-vida.
Mas, para quem está atracando na realidade literária agora, vale prestar atenção no que diz o vasto universo da literatura a respeito dos diferentes tipos de gêneros disponíveis: conto, novela e romance.
Vamos lá…
Conto
É uma narrativa curta que apresenta todos os elementos tradicionais e essencias de uma boa história: personagens, tempo, espaço, enredo e que se encaixa em qualquer gênero, como: ficção científica, policial, fantasia…
Se alguém me perguntasse, por onde eu começo: eu não titubearia em dizer: pelo conto porque é uma excelente maneira de um Autor se inaugurar no mundo literário. Você terá menos trabalho e conseguir ver o resultado da sua narrativa num espaço curto de tempo. Não quer dizer que será fácil e vai dominar o gênero em dois paragráfos. Mas te dará a exata noção das suas dificuldades e aprenderá com elas.
Uma explicadação rápida para você saber onde está pisando: o conto se caracteriza por apresentar um único conflito… o que permite que a gente se dedique a um acontecimento relevante e um clímax.
Nos cursos que ministrei, percebi que muitas pessoas confundiam conto com crônicas — gêneros totalmente diferentes. A crônica é uma opinião — quase sempre bem humorada — de um fato cotidiano e costuma ter prazo de validade curto. Embora no Brasil, crônicas escritas nos anos 1940 continuam atuais, como se tivessem sido escritas pela manhã. Mas não era para isso acontecer. É a velha mania das pessoas reciclarem temas, requentando-os… alguém aí, gosta de café frio?
Voltando aos contos… é um gênero que aceita diálogos entre os personagens. Mas não admite opinião do autor que pode ser ou não o narrador da história. A escrita ocorre na primeira ou na terceira pessoa do singular. Mas em momento algum pode fugir do objetivo principal do conto que é contar a história.
É o contrário da crônica, onde você pode esbravejar com o mundo, deixando claro o que você pensa e sente a respeito dos “patriotas acampados na porta do quartel“… porque a crônica é um gênero que acomoda uma crítica bem feita… e você pode soltar o verbo. Esbrejar contra o mundo. Soltar os cachorros. Só não pode esquecer que, ao fazer uso da sua liberdade de expressão, não pode ofender ou agredir pessoas com o seu linguajar. Seja elegante… sempre! É a base da literatura…
No conto você precisa ser objetivo… não dar informações desnecessárias a respeito da história, não se perder e usar uma linguagem simples e natural, o mais próximo possível da sua fala cotidiana. Não inventa de incrementar o seu vocabulário. Ninguém quer ler uma história com um dicionário do lado. A idéia é se devertir com uma narrativa gostosa, que te pega pela mão e te leva para outros lugares. Uma viagem, é o que você propõe ao leitor.
Novela
Eu costumo dizer a quem me pergunta: que Novela é um conto que ficou muito grande, mas que não conseguiu ser um romance. E toda vez que digo isso… caiu na risada porque não é tão simples, mas é uma maneira rápida de definir o gênero.
A novela tem vários personagens que giram ao redor do protagonista, que é a razão da história. O ritmo da narrativa é mais acelerado e as cenas são muito importantes para esse gênero, por isso são facilmente adaptáveis para o teatro, cinema ou televisão.
No Brasil é comum as pessoas confundirem o gênero literário com as teledramaturgias produzidas pela Rede Globo que são vendidas como: novela — palavra mais simples que teledramaturgia. Você consegue imaginar o público dizendo: vou assistir a teledramaturgia das seis-sete-nove? Nem eu… Mas assistir uma boa novela produzida pela emissora te ajuda a compreender esse gênero. Na hora de criar os núcleos e as cenas.
E há um critério muito equivocado usado para determinar o gênero novela: a quantidade de páginas. Dizem que é uma espécie de limar entre cem a duzentas páginas.
Perdão Jane Austen! Eles tem essa mania de montante de páginas.
Romance
E chegamos ao gênero que eu considero o mais importante porque é o meu favorito e, sem dúvida, é mais conhecido quando se trata de literatura. Apesar do nome, aviso que história de amor não é uma exclusivamente do gênero. Romance é uma definição dada a narrativas extensas, com variados temas e seis arcos narrativos:: exposição, conflito, ação ascendente, clímax, ação descendente e resolução.
O romance apresenta muitos personagens, contando com protagonistas, antagonistas e personagens secundários — com arcos dramáticos próprios. Há inúmeros conflitos, clímax e reviravoltas.
Você precisa ter total conhecimento da vida de seus personagens. Definição dos protagonistas e antagonistas e consciência do foco narrativo: declinio, ascensão, complexa, dramática. Esse foco não pode, nem deve mudar ao longo da história. E o autor precisa deixar claro desde o primeiro parágrafo para onde vai conduir o leitor.
Para cada foco narrativo, há exemplos na literatura universal. De Flaubert e sua Madame Boavary à Jane Austen e seu Orguho e Preconceito. Romeu e Julieta de Shakespeare. Orlando de Virginia Woolf. Frankenstein de Mary Shelley — para citar alguns livros que você pode ler para se localizar na realidade literária e seus estilos…
Claro que fiz aqui um resumo… apenas para situar as diferenças existentes entre contos, novelas e romances… Recomendo que experimente cada um dos gêneros em suas leituras. Um conto delicioso de ser ler é O Gato Preto, de Edgar Allan Poe, um dos melhores nesse segmento. No gênero novela, eu recomendo a mestra Jane Austen e seu pitoresco Razão e sentimento (com tradução de Lygia Fagundes Teles) e o excelente romance: A elegância do ouriço, de Muriel Barbery…
E se quiser conversar a respeito… temos o nosso Clube de Escrita da Scenarium, onde discutimos e realizamos exercícios de escrita. Vem com a gente, os nosos encontros acontecem às segundas, das 20 às 22 horas — online…