Leitura comentada  | Vermelho por dentro

Olá,

Cá estamos nós, em Maio, o famoso mês das trovoadas… Mas, por enquanto, eu não ouvi um único trovãos nos céus. Mas em meu corpo, replicam-se e tenho bons motivos para isso. Teremos uma convidada especial para o Leitura comentada desse mês. Uma queridissima conhecida nossa: Anna Clara de Vitto que escolheu o meu romance Vermelho por dentro para ler e comentar na penúltima sexta-feira do mês…

Se o nosso Caio Fernando Abreu tinha borboletas no estomago… eu tenho morcegos e eles estão indóceis.

Vermelho por dentro é uma ode à mulher, aos seus pensamentos, sentimentos, à luta. Trata-se da batalha silenciosa do que é viver em pele de mulher diariamente, do que é sentir. Do que fazem delas e do que esperam delas. Deborah Bodeh é uma artista plástica que fez escolhas e optou por seguir em frente, sem olhar para trás — prestes a compleatar quarenta anos ela decide passar a limpo sua trajetória de sucesso, investigando a si mesma para atracar na nova fase usando a si como experimento.

Vermelho por dentro traz duas personagens femininas ‘mãe e filha’ e seus dilemas de vida, em primeiro plano. Duas figuras firmes-fortes-e-sonoras, conscientes de que tudo poderia ser diferente em suas vidas, mas uma vez feitas as escolhas, não é possível olhar para trás e pensar um futuro novo — diferente. É preciso conviver com o resultado das escolhas feitas. 

 Anota aí, dia 19 de maio, às 19h30

Pré venda Desvairada

Olá,

Passei os últimos dias, entre livros, encontros e desencontros, pesadas xícaras de café e as páginas da nova edição da Revista Plural que reuniu um talentoso grupo de escritores que atenderam a convites, provocações e desafios feitos por mim ao longo dos últimos meses.

Poesias

Heloisa Helena Garcia, Jenis Bacelar, Iolly Aires, Rozana Gastaldi Cominal,
Maria Valentina, Lilian Saeko Taba e as convidadas Flávia Côrtes e Jeovânia P.

Correspondência
Fred Ferraz, Luciana Assunção, Mariana Gouveia,
Obdulio Nuñes Ortega e Rozana Gastaldi Cominal.

Crônicas
Roseli Pedroso, Ananda Karenina,
Rozana Gastaldi Cominal e a convidada Adriana Aneli.

Prosa
Luana Souza, Maria Valentina
e Nirlei Maria Oliveira

Ficção curta
Mariana Pio e Luciana Assunção

Depois de passar horas longe… foi um prazer retornar e me deparar com as páginas da nova edição da revista literária Plural… Desvairada a minha espera: dobradas, prensas, furadas e pronta para ser alinhavada. Eu adoro essa parte: o manusefio da fita, da agulha que vai percorrendo um a um… os furos até o primeiro nó, que une toas as folhas e o segundo e o útlimo que finalizam o processo de costura.

Com a revista devidamente alinhavada… é hora de folhear para sentir como o exemplar se comporta aos meus olhos. E foi grafiticante a leitura-primeira-solitária.

Quer experimentar? Encomenda um exemplar para chamar de seu.
A pré-venda da Revista artesanal literária Desvairada começa hoje!
A Edição é única e serão 30 exemplares numerados

R$ 45

Cartas para Abril  | Herberto Helder

Herberto Helder

biografia e poesia

Cartas para Abril  | Ana Luisa Amaral

Ana Luisa Amaral

biografia e poesia

Plural Desvairada | Resultado

Olá,

A Revista Plural terá nesse ano uma edição única e será Desvairada…

Após finalizado o processo de envio dos textos — recebemos um farto material –, iniciei a seleção. Li contos, poesias, crônicas, prosa e corresondência… E a seleção foi feita a partir de um ponto num mapa imaginário que eu desenhei a partir do modernismo de Mário de Andrade — de onde veio o título-tema para essa edição.

A Plural Desvariada navega pela proposta arquitetada pelo próprio poeta-homem Mário de Andrade, que escreveu em seu prefácio interessantissimo: Leitor: Está fundado o Desvairismo…

Teremos na Revista, uma deliciosa seleção de 22 poemas de Mário de Andrade, feita pelos autores da Scenarium… visando traçar um paralelo entre a poesia de Mário e a Semana de 22, do qual foi um dos articulares.

Para essa Edição, selecionamos a poesia de Helosia Helena Garcia, Iolly Aires, Jenis Bacelar, Lilian Saeko Taba, Maria Valentina Rocha e Rozana Gastaldi Cominal, a crônica de Ananda Karenina, Roseli Pedroso e Rozana Gastaldi Cominal, a prosa de Luana Alves de Souza, Maria Valentina e Nirlei Maria Oliveira, a correspondência de Fred Ferraz, Mariana Gouveia, Obdulio Nuñes Ortega e Rozana Gastaldi Cominal e a ficção curta de Luciana Assunção e Maria Valentina…

O próximo passo é construir os cadernos para serem alinhavados com fita de cetim e apresentá-los aos leitores.
Grata a todos os autores a todas a autoras que enviaram seus materiais.

Lunna Guedes
Curadora

Cartas para Abril  | João Luís Barreto Guimarães

João Luis Barreto Guimarães

biografiae e poesia

Cartas para Abril  | Maria Sousa

Maria Sousa

biografiae e poesia

Leitura comentada  | De pato a ganso

Olá,

Cá estamos nós, em Abril, também conhecido como mês dos coelhos e chocolates, entre outras coisas. E eu espero que esteja pronto para mais uma Leitura comentada… Para esse mês, escolhemos o livro de crônicas De Pato a Ganso da Isabel Rupaud…

Eu e Suzana Martins estamos esfregando as mãos para falar desse livro que mistura tudo… fatos, memórias, críticas. Cada página virada é um ponto de vista para as coisas do mundo da autora, que tem algumas opiniões prontas e definitivas. É uma leitura leve que não abre mão do bom humor, apesar de várias vezes abordar assuntos densos.

De pato a ganso é o primeiro livro da autora que gosta de questionar a realidade e marcar o passo com observações peculiares acerca do mundo que gira porque ao contrário do que dizem, é esférico e dá voltas ao redor do sol e de si mesmo…

 Anota aí, dia 21 de abril, às 19h30

Abril

Quarta parte de um ano sobre doze avos. Há pouco acabou o Carnaval, mas segue o baile (espero que sem máscaras). Temos, agora, outras trinta e uma páginas-oportunidades para continuar fazendo ou começar a fazer sentido. É no fim do mês que o calor começa a arrefecer com a chegada do Outono. E apesar de gerada durante o frio junino e estreado na  estação da renovação, sempre me identifiquei com a época do florescimento. Mas nada é estanque: basta pensar que, atravessando a linha do Equador, é Primavera para metade do planeta e daqui a mais dois terços do ano, ela vai chegar aqui outra vez. Tudo é ciclo e é preciso ter atenção, conectar-se às  estações de dentro, porque n’algum lugar (real ou imaginário) é sempre tempo de renascer. As folhas caem por aqui, enquanto as flores espocam no Norte para lembrar que tudo passa, ainda que os galhos fiquem quase ou totalmente nus. Os signos também mudam e, contrariando a lógica, de duas gerações de água, surgiu uma mulher de fogo. Basta uma faísca para que se faça a chama: o que importa é não desistir e manter ativa a nossa ESPERANÇA.

Adriana Aneli é autora de Abril na Agenda artesanal 2023

Três poemas de Heloisa Helena Garcia

Paulistana da gema, nasci no bairro da Bela Vista. Passei por outros bairros, mas sempre vivi em apartamentos, e, talvez por isso, adoro olhar a cidade do alto, apreciando a combinação de pessoas, ruas, árvores, postes, casas, prédios em diferentes perspectivas. Quando escrevo, o movimento é semelhante, voltado para dentro, explorando diferentes perspectivas de mim, da minha história e das minhas relações. Escrevo sobre o que penso e sinto, dos lugares (in)completos de mulher, filha, esposa, amiga e mãe. Desde 2020, participei de algumas coletâneas, assumindo meu lugar de escritora, que dá expressão e sustentação a todos os outros.

RAÍZES  

Caminho inteira e sozinha pelo parque quase deserto.
Bendigo a chuva recém caída no solo úmido e fértil.
O céu se move num acolchoado denso de nuvens sobrepostas.
Tons de verde e cinza se mesclam numa harmonia fria que agrada meus olhos.
No tapete de folhas, o tempo se revela em amarelo, ocre e grená.
Observo o enlace das raízes — grossas, curvas, ásperas —
que em seus caminhos cruzados,
se abraçam,
se compreendem,
se perdoam.
Qual graveto fresco e frágil, me reconheço pequena e sedenta aprendiz.

TRANSFORMAÇÃO

Madrugada.
Acordo de um sonho agitado: preciso abrir espaço para o sono poder voltar.
Me arrasto até o banheiro, sem incomodar os que dormem.
Escrevo com pressa, antes que a lâmpada trêmula se apague.
Volto para a cama macia, ainda morna.
O ronco suave do frigobar; os pingos de chuva marcando o tempo.
Alguém ressoa baixinho ao meu lado.
Estou mais calma: o que era incômodo se tornou presença.

ANOITECER DA ALMA  

É hora 
de acalmar o peito, desfazer o laço, afrouxar o passo.
Já é hora 
de acolher o tempo, abaixar o fogo, escutar o céu.
É hora, sem demora 
de se recolher, reconhecer e desapegar.
É chegada a hora, agora,
em que para ser eu é preciso desatar o nós.

A minha relação com a noite: inimiga/amante/amiga…

Houve um tempo que era de medo. Bastava o céu fechar as cortinas e o escuro invadir o meu quintal que esse sentimento anestesiante reinava absoluto no meu corpo, por causa da dor. Eu tirava os chinelos e pisava no chão, para que a terra me fizesse firme ao caos que se estabelecia em mim. A dor é um bicho estranho e noturno. Mesmo quando eu estava entre os corredores, amparada por agulhas e fios… o medo surgia, como um fantasma. A dor era feito a noite sem lua-estrela… E não havia como não associá-la ao que a dor fazia comigo… Um vácuo, tipo guerra em que a explosão é apenas o medo de doer. E doía tanto. Havia noites em que doía tudo.

Mas, eu já fui amante da noite. Quando caminhei pelas ruas escuras. Não me lembro de me sentir tão segura quanto naquele tempo. O moço que cuidava do cemitério me levava pelas mãos, nas madrugadas mornas e era o meu guia. Passo a passo do meu lado… Voz de amparo e de cuidado. De um lado, o rádio onde eu expunha meus sonhos e do outro, o cemitério. Eu era a amante da noite que era o lugar das sombras do muro que me acolhiam sob os olhos atentos do moço que cuidava do repouso… a última morada de muitos.

Mesmo lembrando que antes da dor, o que me acalentava a alma era a rua estreita, que me levava mata adentro e no descampado, onde eu via as estrelas, a via láctea e suas constelações. Foi ali que a noite se tornou minha amiga. Eu era a menina que deitava no tapete debaixo das estrelas e sabia de cor todas as constelações. Conhecia os atalhos e era guiada pelos vagalumes.

Mariana Gouveia... pessoa adoradora de lua, borboletas e joaninhas. É dona de um beija-flor chamado Chiquinho que em algumas noites dorme em suas mãos. É a humana de Lolla e Yoshi, os cães que domaram seu coração para além dos voos. Sonha com os pés no chão. É marítima sem nunca ter conhecido o mar. É de rio e de terra. Do ar e do vento…Tem horas que pensa que é apenas uma, mas acontece que dentro dela moram várias… 

Corredores, codinome: loucura, de Mariana Gouveia

Em algum momento você teve a sua sanidade questionada?

Maria, personagem principal de Corredores descobre que não existe limite entre a sanidade e a loucura e que enlouquecer aos olhos dos outros, poderia ser a única maneira de preservar-se…

Olá,

Hoje é dia de sugestão de leitura aqui no blogue! E vou aroveitar a leitura comentada de março lá no instagram para indicar: Corredores, codinome: loucura, de Mariana Gouveia, que é um livro que exibe em suas páginas um elemento drásticamente contemporâneo: o abuso que crianças sofrem dentro de suas casas. Um lugar que deveria representar segurança e que se revela um verdadeiro pesadelo para meninas e meninos.

Não é atoa que é nos quartos residem monstros que se escondem dentro de armários ou debaixo das camas…

Precisamos estar atentos aos sintomas. Uma criança, vítima de abuso parental, muda o comportamento de maneira repetina: passa de criança calma e tranquila para alguém irritadiço ou o contrário disso. Demonstra medo e incômodo quando na companhia de um adulto — geralmente o seu agressor. E há casos de descontrole dos esfíncteres.

Muitas crianças — como a personagem de Corredores — são desacreditadas pelos adultos, que acham impossível que o adulto apontado por elas, seja capaz de tal gesto…

Na ficção escrita por Mariana Gouveia, conhecemos Maria, que ao atingir a puberdade, atrai os olhares do namorado da mãe: figura confiável e respeitada por todos. Ele se defende, acusando-a de loucura e convence: a mãe, a vizinhança e a própria Maria que começa a duvidar da sua sanidade.

É uma história forte, densa e que vai de te deixar completamente sem fôlego. A escrita poética de Mariana Gouveia te transforma e emociona. Você não vai conseguir tirar os olhos de Maria, que foi largada na loucura do outro sem ao menos ser ouvida. Teve seus sonhos amassados e jogados no lixo, como se fosse um papel velho. A esperança perdeu-se em meio aos gritos de socorro que foram abafados dentro de um corredor vazio sem qualquer chance de vida.

Clique aqui para continuar lendo a rezenha de Suzana Martins

clique aqui para ler o primeiro capítulo de Corredores

Quatro poemas de Nirlei Maria Oliveira

Sou aquariana que gosta de viver nas dobras das nuvens para sentir as asas e o cheiro inebriante da liberdade.

Apresenta sérias dificuldades para manter os pés no chão. Prefere sonhar acordada ou fantasiar-se de Alice no País das Maravilhas para brincar nos jardins do mundo real.

insônias e rotinas

horas tardias
não há ninguém — lá fora —
— o silêncio persiste —

olhos postos na janela a pressentir — o tempo —
a enfrentar lonjuras e pensamentos dispersos

e, ainda assim, mirar e mirar
a paisagem — mundo — de nós
no tom sépia dos retratos

valiosas urgências e emergências
sejam estas: contar
e recontar — estrelas e lua

quase dormir e amanhecer com olhos de ontem
ocupar-se com as miudezas diárias
e tragar o amargo da rotina

não aprendo a conviver com as horas
insones e dias iguais

(prefiro o brilho da lua e das estrelas
ao ofício das repetições)

gatos rondam a rua

sintomas, apenas sintomas 
de alegria
de euforia
de alforria

assim, amanheço
revestida deste sol insistente de quase 10h
que entra pelas janelas abertas e se
espalha pelo quarto

preciso
habitar as urgências das manhãs
como quem volta da guerra
com sede voraz de viver — o hoje —

vestida para:
atravessar armada de versos
— as ausências —

encher a boca
com versos entre os afiados dentes
morder palavras inquietas e observar a paisagem morna
que entra pelas minhas retinas, ainda sonolentas

ainda assim, sigo rituais das manhãs:
repetição repetição repetição
quem sabe o sagrado permanece

queimar velas e incensos para os anjos e
para os vivos
assim, apenas assim, o dia começa

despeço da casa
pés na soleira da porta
ir sair partir ir

gatos rondam a rua
cumplicidade e silêncio

Dos ritos

ritos primeiros

amanhecer os desejos
e romper o riso

jogar dados com o tempo
e perder
o rumo o ponto a linha
o siso o sono e as horas

ancorar os dias
em horizontes sem bordas
rasantes ou minguantes
desaguar vontades em solos
porosos e férteis

rito solene

beber o sol lentamente
quebrar a taça e rir das (in)certezas

rito perene

o cotidiano
— é para ser brincante —

Brotos botões rebentos

caminhamos pelas bordas — tempo suspenso —
andamos incautos por margens e fronteiras
tudo é incerteza na — soleira do amanhã —

a luz
 — insurgente —
reverbera nos vãos e desvãos do agora

— lá fora — 
pela janela aberta minhas retinas turvam
explodem rebentos de flores
 — rebentação —

ainda há tempo para destorroar a terra
 — nada brota sem semeadura —

Marielle… presente!

“Eu enquanto favelada, eu enquanto vereadora, que sei que desde a minha época de pré-vestibular comunitário, quando tive que fazer mais pré porque as escolas da região não me davam condições de tá nas Universidades Públicas, já sabia que isso era político”.

Marielle Franco
1979 — 2018

Cinco anos se passaram… e a pergunta ressooa, sem respostas. Foi-se a Mulher. Mas não foi em vão. Sua luta se tornou herança de muitas outras…

E neste 14 de março (que soube ser o dia nacional da Poesia) convido você a leitura dos textos escritos ontem e hoje por encomeda para um projeto que é memória para que a gente nunca se esqueça que a luta continua por ela e por todas nós…

Boa leitura…

Três poemas de
Adriana Aneli

Um grito…

Uma missiva para Marielle

Dois poemas de
Nic Cardeal

Uma crônica de
Obudlio Nuñes Ortega

Coluna Plural | Noturno

Quando garotinho, nossa mãe nos acordava à 4h30 da manhã para tomarmos café. Eu dormia no corredor, numa cama de molas, a qual desmontava, deixava num canto e vestia a roupinha para irmos, meus irmãos e eu, ao Parque Infantil da Barra Funda. Na Periferia de poucas luzes, a escuridão imperava e as estrelas brilhavam como nunca mais na minha vida. Íamos pegar o ônibus já lotado às 5h30. Nesse horário, a noite ainda vencia o dia e somente no verão éramos acompanhados pelas primeiras luzes.

Desde então, já dormia pouco. Costumava ficar deitado na laje vendo as estrelas tremeluzirem seu passado. Atividade que só trocava por programas musicais ou filmes de ação na TV PB de 14”. Nunca supus que no futuro a minha atividade seria eminentemente noturna, mas na adolescência só dormia com as primeiras luzes. Passava o silêncio a ser preenchido com os sons das palavras que brotavam em minha mente e escorriam por minhas mãos e dedos para os papéis transbordados de sentenças definitivas.

O pretenso escritor sentia como se a noite abençoasse as suas frases feitas de estrelas e cantos de galos, muito comuns naquela época. Por eles, conseguia marcar o tempo – 4h… 5h… e sol a me pedir que dormisse. Estudava à tarde. Nunca saía para lugar algum, a não ser para dentro de mim, onde escondia os meus segredos testemunhados pela noite que eu considerava uma entidade – com corpo, intenções e entendimentos.

Filho da noite, à mãe compreensiva confessava a razão de temer tanto às mulheres. Os meus amores infrutíferos, feitos para acabar, jaziam num canto sob pilhas de cadernos em que os vivia profundamente. Amá-las sem conhecê-las salvava a minha dignidade das objeções por ser tão canhestro. Quando a lua surgia, sabia que era aceito e eu a namorava recebendo beijos em meus olhos…

Obdulio Nuñes Ortega — deu-se que refugiados da Guerra Espanhola aportassem no Brasil e dentre seus frutos, uma moça uniu-se a um gentio da terra nova, refugiado do sul do continente. Geraram um brasileiro desorientado do sentido da vida e desequilibrado por força da Balança que o rege. Supera seus íntimos mistérios, os expondo a quem quiser lês-los, no cenário da palavra. Acredita ser escritor, o melhor que puder ser tendo como base a si mesmo. Espera não alcançar a eternidade, mas sabe-se infinito. 

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Três poemas de Rozana Gastaldi Cominal

Mantém os sentidos em alerta: Eu vejo. Sinto. Vivo. Ufa! Respiro. E não piro. Suspiro! Escreve porque sonha com uma sociedade menos desigual onde o respeito mútuo seja a base do diálogo, onde a poesia  e a sororidade estejam na ordem do dia. Acredita na força dos coletivos e com eles  faz voz. Autora do livro de poesias “Mulheres que voam” , Scenarium, 2022. Participou dos Coletivos da Scenarium Nascer pela segunda vez (2021), Andarilha e da edição da Revista Plural Cartografias das sombras (2022).

Facebook: https://www.facebook.com/rozana.cominal
Instagram: https://www.instagram.com/rozanagastaldi/

violeta & malagueta

consumo-me em atitudes
e sentimentos adversos
penso
não ando
estanco
sinto
movo
removo o flanco

metamorfose dialética
violeta e malagueta
genial e geniosa
estupenda e estúpida
eufórica e neurótica
sensual e sexual

razão enigmática
consinto que sou volúvel
mas não irresponsável
assumo o que sou
assumo o que faço
não é por acaso
que tenho um caso
com o caos

Do livro Mulheres que voam

Ao renascer
conecto-me com o universo ao redor
Outra vez em  guarda e (or)ação
sobrevivente sou
vidas que esgarçam e entrelaçam

Do Coletivo Nascer pela Segunda vez

trajetória insubmissa

corpo leve
circunscreve
branco como neve
ultraleve
peso pesado
lesado

caminho tortuoso
que se lança
que dança
que tensiona
que flutua
que insinua

tela escultural
forma harmoniosa
coluna vertebral
geometria sinuosa
curva espiral
corpo que pensa

Leitura comentada  | Corredores, codinome: loucura

Olá,

Acabou o Carnaval (eu acho) e aterrisamos em Março… espero que esteja pronto para as novidades. Começaremos com um novo e delicioso encontro com o livro Corredores, codinome: loucurada querídissima Mariana Gouveia. Eu e a Suzana Martins já estamos ansiosas para comentar o livro que conta a história da jovem Maria, uma menina vítima de abuso dentro de casa e que ao gritar e espernear, denunciando o padrastro, acaba sendo levada para um Hospício, onde o horror ganha nova definição.

O romance, publicado em 2018 trata a loucura da jovem como a única justificativa possível para denúncias feitas e consideradas inadequadas pela própria mãe, afinal, o homem que Maria acusa, jamais seria capaz de tal ato.

Corredores é o cenário da história de Maria… que é trancada num hospício pela própria mãe após ser vítima de abuso sexual dentro de sua própria casa. Loucura atestada, a solução é entregá-la aos cuidados de Mathilda — uma mulher que não enxerga pessoas, apenas números numa folha mapeados pela condição determinada por ela e, assegurada pelo Estado que só quer se livrar de seus “doentes”.

 Anota aí, dia 24 de março, às 19h30

Coletivo O mapa de vênus

R$ 37

Olá,

Hoje é dia de sugestão de leitura aqui no blogue! E para quem gosta de poesia… a dica é o Coletivo O Mapa de Vênus… que surgiu a partir de uma missiva escrita por mim e, enviada as poetas Anna Clara de Vitto, Kátia Castañeda, Mariana Gouveia, Nirlei Maria Oliveira e Suzana Martins…

Os cadernos que compõe o livro O mapa de vênus forma feitos a partir das respostas escritas pelas poetas correspondentes, em forma de poesias… e enviadas a mm.

É um projeto que convida você, ao final da leitura, a migrar da condição de leitor para a de correspondente. Pegue papel, caneta, um envelope, de preferência feito por você mesmo… e escreva-nos a sua missiva. Será um prazer colher suas impressões ao final da leitura…

Conto, novela ou romance?

Quando eu decidi virar a página da minha realidade, migrando da psicanálise para a literatura… eu tinha uma certeza: iria escrever um romance. Mas, quando se pronunciei essa frase em voz alta, nem desconfiava que existia um sem-fim de diretrizes penduradas nela.

Tem gente que pensa naqueles livros intermináveis e pesados… com não sei quantas mil páginas. Enquanto outros, lembra-se daquelas leituras — obrigatórias — do tempo do colégio. Livros esquecidos em prateleiras… Eu pensava apenas na narrativa e no desafio que seria me dedicar a esse projeto-de-vida.

Mas, para quem está atracando na realidade literária agora, vale prestar atenção no que diz o vasto universo da literatura a respeito dos diferentes tipos de gêneros disponíveis: conto, novela e romance.

Vamos lá…

Conto

É uma narrativa curta que apresenta todos os elementos tradicionais e essencias de uma boa história: personagens, tempo, espaço, enredo e que se encaixa em qualquer gênero, como: ficção científica, policial, fantasia…

Se alguém me perguntasse, por onde eu começo: eu não titubearia em dizer: pelo conto porque é uma excelente maneira de um Autor se inaugurar no mundo literário. Você terá menos trabalho e conseguir ver o resultado da sua narrativa num espaço curto de tempo. Não quer dizer que será fácil e vai dominar o gênero em dois paragráfos. Mas te dará a exata noção das suas dificuldades e aprenderá com elas.

Uma explicadação rápida para você saber onde está pisando: o conto se caracteriza por apresentar um único conflito… o que permite que a gente se dedique a um acontecimento relevante e um clímax.

Nos cursos que ministrei, percebi que muitas pessoas confundiam conto com crônicas — gêneros totalmente diferentes. A crônica é uma opinião — quase sempre bem humorada — de um fato cotidiano e costuma ter prazo de validade curto. Embora no Brasil, crônicas escritas nos anos 1940 continuam atuais, como se tivessem sido escritas pela manhã. Mas não era para isso acontecer. É a velha mania das pessoas reciclarem temas, requentando-os… alguém aí, gosta de café frio?

Voltando aos contos… é um gênero que aceita diálogos entre os personagens. Mas não admite opinião do autor que pode ser ou não o narrador da história. A escrita ocorre na primeira ou na terceira pessoa do singular. Mas em momento algum pode fugir do objetivo principal do conto que é contar a história.

É o contrário da crônica, onde você pode esbravejar com o mundo, deixando claro o que você pensa e sente a respeito dos “patriotas acampados na porta do quartel“… porque a crônica é um gênero que acomoda uma crítica bem feita… e você pode soltar o verbo. Esbrejar contra o mundo. Soltar os cachorros. Só não pode esquecer que, ao fazer uso da sua liberdade de expressão, não pode ofender ou agredir pessoas com o seu linguajar. Seja elegante… sempre! É a base da literatura…

No conto você precisa ser objetivo… não dar informações desnecessárias a respeito da história, não se perder e usar uma linguagem simples e natural, o mais próximo possível da sua fala cotidiana. Não inventa de incrementar o seu vocabulário. Ninguém quer ler uma história com um dicionário do lado. A idéia é se devertir com uma narrativa gostosa, que te pega pela mão e te leva para outros lugares. Uma viagem, é o que você propõe ao leitor.

Novela

Eu costumo dizer a quem me pergunta: que Novela é um conto que ficou muito grande, mas que não conseguiu ser um romance. E toda vez que digo isso… caiu na risada porque não é tão simples, mas é uma maneira rápida de definir o gênero.

A novela tem vários personagens que giram ao redor do protagonista, que é a razão da história. O ritmo da narrativa é mais acelerado e as cenas são muito importantes para esse gênero, por isso são facilmente adaptáveis para o teatro, cinema ou televisão.

No Brasil é comum as pessoas confundirem o gênero literário com as teledramaturgias produzidas pela Rede Globo que são vendidas como: novela — palavra mais simples que teledramaturgia. Você consegue imaginar o público dizendo: vou assistir a teledramaturgia das seis-sete-nove? Nem eu… Mas assistir uma boa novela produzida pela emissora te ajuda a compreender esse gênero. Na hora de criar os núcleos e as cenas.

E há um critério muito equivocado usado para determinar o gênero novela: a quantidade de páginas. Dizem que é uma espécie de limar entre cem a duzentas páginas.

Perdão Jane Austen! Eles tem essa mania de montante de páginas.

Romance

E chegamos ao gênero que eu considero o mais importante porque é o meu favorito e, sem dúvida, é mais conhecido quando se trata de literatura. Apesar do nome, aviso que história de amor não é uma exclusivamente do gênero. Romance é uma definição dada a narrativas extensas, com variados temas e seis arcos narrativos:: exposição, conflito, ação ascendente, clímax, ação descendente e resolução.

O romance apresenta muitos personagens, contando com protagonistas, antagonistas e personagens secundários — com arcos dramáticos próprios. Há inúmeros conflitos, clímax e reviravoltas.

Você precisa ter total conhecimento da vida de seus personagens. Definição dos protagonistas e antagonistas e consciência do foco narrativo: declinio, ascensão, complexa, dramática. Esse foco não pode, nem deve mudar ao longo da história. E o autor precisa deixar claro desde o primeiro parágrafo para onde vai conduir o leitor.

Para cada foco narrativo, há exemplos na literatura universal. De Flaubert e sua Madame Boavary à Jane Austen e seu Orguho e Preconceito. Romeu e Julieta de Shakespeare. Orlando de Virginia Woolf. Frankenstein de Mary Shelley — para citar alguns livros que você pode ler para se localizar na realidade literária e seus estilos…

Claro que fiz aqui um resumo… apenas para situar as diferenças existentes entre contos, novelas e romances… Recomendo que experimente cada um dos gêneros em suas leituras. Um conto delicioso de ser ler é O Gato Preto, de Edgar Allan Poe, um dos melhores nesse segmento. No gênero novela, eu recomendo a mestra Jane Austen e seu pitoresco Razão e sentimento (com tradução de Lygia Fagundes Teles) e o excelente romance: A elegância do ouriço, de Muriel Barbery…

E se quiser conversar a respeito… temos o nosso Clube de Escrita da Scenarium, onde discutimos e realizamos exercícios de escrita. Vem com a gente, os nosos encontros acontecem às segundas, das 20 às 22 horas — online…