Três poemas de Heloisa Helena Garcia

Paulistana da gema, nasci no bairro da Bela Vista. Passei por outros bairros, mas sempre vivi em apartamentos, e, talvez por isso, adoro olhar a cidade do alto, apreciando a combinação de pessoas, ruas, árvores, postes, casas, prédios em diferentes perspectivas. Quando escrevo, o movimento é semelhante, voltado para dentro, explorando diferentes perspectivas de mim, da minha história e das minhas relações. Escrevo sobre o que penso e sinto, dos lugares (in)completos de mulher, filha, esposa, amiga e mãe. Desde 2020, participei de algumas coletâneas, assumindo meu lugar de escritora, que dá expressão e sustentação a todos os outros.

RAÍZES  

Caminho inteira e sozinha pelo parque quase deserto.
Bendigo a chuva recém caída no solo úmido e fértil.
O céu se move num acolchoado denso de nuvens sobrepostas.
Tons de verde e cinza se mesclam numa harmonia fria que agrada meus olhos.
No tapete de folhas, o tempo se revela em amarelo, ocre e grená.
Observo o enlace das raízes — grossas, curvas, ásperas —
que em seus caminhos cruzados,
se abraçam,
se compreendem,
se perdoam.
Qual graveto fresco e frágil, me reconheço pequena e sedenta aprendiz.

TRANSFORMAÇÃO

Madrugada.
Acordo de um sonho agitado: preciso abrir espaço para o sono poder voltar.
Me arrasto até o banheiro, sem incomodar os que dormem.
Escrevo com pressa, antes que a lâmpada trêmula se apague.
Volto para a cama macia, ainda morna.
O ronco suave do frigobar; os pingos de chuva marcando o tempo.
Alguém ressoa baixinho ao meu lado.
Estou mais calma: o que era incômodo se tornou presença.

ANOITECER DA ALMA  

É hora 
de acalmar o peito, desfazer o laço, afrouxar o passo.
Já é hora 
de acolher o tempo, abaixar o fogo, escutar o céu.
É hora, sem demora 
de se recolher, reconhecer e desapegar.
É chegada a hora, agora,
em que para ser eu é preciso desatar o nós.

A minha relação com a noite: inimiga/amante/amiga…

Houve um tempo que era de medo. Bastava o céu fechar as cortinas e o escuro invadir o meu quintal que esse sentimento anestesiante reinava absoluto no meu corpo, por causa da dor. Eu tirava os chinelos e pisava no chão, para que a terra me fizesse firme ao caos que se estabelecia em mim. A dor é um bicho estranho e noturno. Mesmo quando eu estava entre os corredores, amparada por agulhas e fios… o medo surgia, como um fantasma. A dor era feito a noite sem lua-estrela… E não havia como não associá-la ao que a dor fazia comigo… Um vácuo, tipo guerra em que a explosão é apenas o medo de doer. E doía tanto. Havia noites em que doía tudo.

Mas, eu já fui amante da noite. Quando caminhei pelas ruas escuras. Não me lembro de me sentir tão segura quanto naquele tempo. O moço que cuidava do cemitério me levava pelas mãos, nas madrugadas mornas e era o meu guia. Passo a passo do meu lado… Voz de amparo e de cuidado. De um lado, o rádio onde eu expunha meus sonhos e do outro, o cemitério. Eu era a amante da noite que era o lugar das sombras do muro que me acolhiam sob os olhos atentos do moço que cuidava do repouso… a última morada de muitos.

Mesmo lembrando que antes da dor, o que me acalentava a alma era a rua estreita, que me levava mata adentro e no descampado, onde eu via as estrelas, a via láctea e suas constelações. Foi ali que a noite se tornou minha amiga. Eu era a menina que deitava no tapete debaixo das estrelas e sabia de cor todas as constelações. Conhecia os atalhos e era guiada pelos vagalumes.

Mariana Gouveia... pessoa adoradora de lua, borboletas e joaninhas. É dona de um beija-flor chamado Chiquinho que em algumas noites dorme em suas mãos. É a humana de Lolla e Yoshi, os cães que domaram seu coração para além dos voos. Sonha com os pés no chão. É marítima sem nunca ter conhecido o mar. É de rio e de terra. Do ar e do vento…Tem horas que pensa que é apenas uma, mas acontece que dentro dela moram várias… 

Corredores, codinome: loucura, de Mariana Gouveia

Em algum momento você teve a sua sanidade questionada?

Maria, personagem principal de Corredores descobre que não existe limite entre a sanidade e a loucura e que enlouquecer aos olhos dos outros, poderia ser a única maneira de preservar-se…

Olá,

Hoje é dia de sugestão de leitura aqui no blogue! E vou aroveitar a leitura comentada de março lá no instagram para indicar: Corredores, codinome: loucura, de Mariana Gouveia, que é um livro que exibe em suas páginas um elemento drásticamente contemporâneo: o abuso que crianças sofrem dentro de suas casas. Um lugar que deveria representar segurança e que se revela um verdadeiro pesadelo para meninas e meninos.

Não é atoa que é nos quartos residem monstros que se escondem dentro de armários ou debaixo das camas…

Precisamos estar atentos aos sintomas. Uma criança, vítima de abuso parental, muda o comportamento de maneira repetina: passa de criança calma e tranquila para alguém irritadiço ou o contrário disso. Demonstra medo e incômodo quando na companhia de um adulto — geralmente o seu agressor. E há casos de descontrole dos esfíncteres.

Muitas crianças — como a personagem de Corredores — são desacreditadas pelos adultos, que acham impossível que o adulto apontado por elas, seja capaz de tal gesto…

Na ficção escrita por Mariana Gouveia, conhecemos Maria, que ao atingir a puberdade, atrai os olhares do namorado da mãe: figura confiável e respeitada por todos. Ele se defende, acusando-a de loucura e convence: a mãe, a vizinhança e a própria Maria que começa a duvidar da sua sanidade.

É uma história forte, densa e que vai de te deixar completamente sem fôlego. A escrita poética de Mariana Gouveia te transforma e emociona. Você não vai conseguir tirar os olhos de Maria, que foi largada na loucura do outro sem ao menos ser ouvida. Teve seus sonhos amassados e jogados no lixo, como se fosse um papel velho. A esperança perdeu-se em meio aos gritos de socorro que foram abafados dentro de um corredor vazio sem qualquer chance de vida.

Clique aqui para continuar lendo a rezenha de Suzana Martins

clique aqui para ler o primeiro capítulo de Corredores

Desafio de Poesias: Mulher de nuvem

Scenarium

A poesia é um corpo que fala, sente e se movimenta por versos ou através dele.

O que se pretende nesse Coletivo é que a Mulher escreva-se enquanto pele sensível ao toque, ao tempo, ao lugar, as emoções, ao outro, a si mesma e nos exiba a sua Nuvem em 05 poemas que juntos sejam uma mesma matéria densa e intempestiva, como apenas as mulheres o sabem Ser..

Participe com a sua poesia… seja pele-avesso-desejo!
Organização. Anna Clara de Vitto

Quatro poemas de Nirlei Maria Oliveira

Sou aquariana que gosta de viver nas dobras das nuvens para sentir as asas e o cheiro inebriante da liberdade.

Apresenta sérias dificuldades para manter os pés no chão. Prefere sonhar acordada ou fantasiar-se de Alice no País das Maravilhas para brincar nos jardins do mundo real.

insônias e rotinas

horas tardias
não há ninguém — lá fora —
— o silêncio persiste —

olhos postos na janela a pressentir — o tempo —
a enfrentar lonjuras e pensamentos dispersos

e, ainda assim, mirar e mirar
a paisagem — mundo — de nós
no tom sépia dos retratos

valiosas urgências e emergências
sejam estas: contar
e recontar — estrelas e lua

quase dormir e amanhecer com olhos de ontem
ocupar-se com as miudezas diárias
e tragar o amargo da rotina

não aprendo a conviver com as horas
insones e dias iguais

(prefiro o brilho da lua e das estrelas
ao ofício das repetições)

gatos rondam a rua

sintomas, apenas sintomas 
de alegria
de euforia
de alforria

assim, amanheço
revestida deste sol insistente de quase 10h
que entra pelas janelas abertas e se
espalha pelo quarto

preciso
habitar as urgências das manhãs
como quem volta da guerra
com sede voraz de viver — o hoje —

vestida para:
atravessar armada de versos
— as ausências —

encher a boca
com versos entre os afiados dentes
morder palavras inquietas e observar a paisagem morna
que entra pelas minhas retinas, ainda sonolentas

ainda assim, sigo rituais das manhãs:
repetição repetição repetição
quem sabe o sagrado permanece

queimar velas e incensos para os anjos e
para os vivos
assim, apenas assim, o dia começa

despeço da casa
pés na soleira da porta
ir sair partir ir

gatos rondam a rua
cumplicidade e silêncio

Dos ritos

ritos primeiros

amanhecer os desejos
e romper o riso

jogar dados com o tempo
e perder
o rumo o ponto a linha
o siso o sono e as horas

ancorar os dias
em horizontes sem bordas
rasantes ou minguantes
desaguar vontades em solos
porosos e férteis

rito solene

beber o sol lentamente
quebrar a taça e rir das (in)certezas

rito perene

o cotidiano
— é para ser brincante —

Brotos botões rebentos

caminhamos pelas bordas — tempo suspenso —
andamos incautos por margens e fronteiras
tudo é incerteza na — soleira do amanhã —

a luz
 — insurgente —
reverbera nos vãos e desvãos do agora

— lá fora — 
pela janela aberta minhas retinas turvam
explodem rebentos de flores
 — rebentação —

ainda há tempo para destorroar a terra
 — nada brota sem semeadura —

Marielle… presente!

“Eu enquanto favelada, eu enquanto vereadora, que sei que desde a minha época de pré-vestibular comunitário, quando tive que fazer mais pré porque as escolas da região não me davam condições de tá nas Universidades Públicas, já sabia que isso era político”.

Marielle Franco
1979 — 2018

Cinco anos se passaram… e a pergunta ressooa, sem respostas. Foi-se a Mulher. Mas não foi em vão. Sua luta se tornou herança de muitas outras…

E neste 14 de março (que soube ser o dia nacional da Poesia) convido você a leitura dos textos escritos ontem e hoje por encomeda para um projeto que é memória para que a gente nunca se esqueça que a luta continua por ela e por todas nós…

Boa leitura…

Três poemas de
Adriana Aneli

Um grito…

Uma missiva para Marielle

Dois poemas de
Nic Cardeal

Uma crônica de
Obudlio Nuñes Ortega

Coluna Plural | Noturno

Quando garotinho, nossa mãe nos acordava à 4h30 da manhã para tomarmos café. Eu dormia no corredor, numa cama de molas, a qual desmontava, deixava num canto e vestia a roupinha para irmos, meus irmãos e eu, ao Parque Infantil da Barra Funda. Na Periferia de poucas luzes, a escuridão imperava e as estrelas brilhavam como nunca mais na minha vida. Íamos pegar o ônibus já lotado às 5h30. Nesse horário, a noite ainda vencia o dia e somente no verão éramos acompanhados pelas primeiras luzes.

Desde então, já dormia pouco. Costumava ficar deitado na laje vendo as estrelas tremeluzirem seu passado. Atividade que só trocava por programas musicais ou filmes de ação na TV PB de 14”. Nunca supus que no futuro a minha atividade seria eminentemente noturna, mas na adolescência só dormia com as primeiras luzes. Passava o silêncio a ser preenchido com os sons das palavras que brotavam em minha mente e escorriam por minhas mãos e dedos para os papéis transbordados de sentenças definitivas.

O pretenso escritor sentia como se a noite abençoasse as suas frases feitas de estrelas e cantos de galos, muito comuns naquela época. Por eles, conseguia marcar o tempo – 4h… 5h… e sol a me pedir que dormisse. Estudava à tarde. Nunca saía para lugar algum, a não ser para dentro de mim, onde escondia os meus segredos testemunhados pela noite que eu considerava uma entidade – com corpo, intenções e entendimentos.

Filho da noite, à mãe compreensiva confessava a razão de temer tanto às mulheres. Os meus amores infrutíferos, feitos para acabar, jaziam num canto sob pilhas de cadernos em que os vivia profundamente. Amá-las sem conhecê-las salvava a minha dignidade das objeções por ser tão canhestro. Quando a lua surgia, sabia que era aceito e eu a namorava recebendo beijos em meus olhos…

Obdulio Nuñes Ortega — deu-se que refugiados da Guerra Espanhola aportassem no Brasil e dentre seus frutos, uma moça uniu-se a um gentio da terra nova, refugiado do sul do continente. Geraram um brasileiro desorientado do sentido da vida e desequilibrado por força da Balança que o rege. Supera seus íntimos mistérios, os expondo a quem quiser lês-los, no cenário da palavra. Acredita ser escritor, o melhor que puder ser tendo como base a si mesmo. Espera não alcançar a eternidade, mas sabe-se infinito. 

Para adquiri o seu livro de poesias Confissões, clique aqui

Três poemas de Rozana Gastaldi Cominal

Mantém os sentidos em alerta: Eu vejo. Sinto. Vivo. Ufa! Respiro. E não piro. Suspiro! Escreve porque sonha com uma sociedade menos desigual onde o respeito mútuo seja a base do diálogo, onde a poesia  e a sororidade estejam na ordem do dia. Acredita na força dos coletivos e com eles  faz voz. Autora do livro de poesias “Mulheres que voam” , Scenarium, 2022. Participou dos Coletivos da Scenarium Nascer pela segunda vez (2021), Andarilha e da edição da Revista Plural Cartografias das sombras (2022).

Facebook: https://www.facebook.com/rozana.cominal
Instagram: https://www.instagram.com/rozanagastaldi/

violeta & malagueta

consumo-me em atitudes
e sentimentos adversos
penso
não ando
estanco
sinto
movo
removo o flanco

metamorfose dialética
violeta e malagueta
genial e geniosa
estupenda e estúpida
eufórica e neurótica
sensual e sexual

razão enigmática
consinto que sou volúvel
mas não irresponsável
assumo o que sou
assumo o que faço
não é por acaso
que tenho um caso
com o caos

Do livro Mulheres que voam

Ao renascer
conecto-me com o universo ao redor
Outra vez em  guarda e (or)ação
sobrevivente sou
vidas que esgarçam e entrelaçam

Do Coletivo Nascer pela Segunda vez

trajetória insubmissa

corpo leve
circunscreve
branco como neve
ultraleve
peso pesado
lesado

caminho tortuoso
que se lança
que dança
que tensiona
que flutua
que insinua

tela escultural
forma harmoniosa
coluna vertebral
geometria sinuosa
curva espiral
corpo que pensa

Leitura comentada  | Corredores, codinome: loucura

Olá,

Acabou o Carnaval (eu acho) e aterrisamos em Março… espero que esteja pronto para as novidades. Começaremos com um novo e delicioso encontro com o livro Corredores, codinome: loucurada querídissima Mariana Gouveia. Eu e a Suzana Martins já estamos ansiosas para comentar o livro que conta a história da jovem Maria, uma menina vítima de abuso dentro de casa e que ao gritar e espernear, denunciando o padrastro, acaba sendo levada para um Hospício, onde o horror ganha nova definição.

O romance, publicado em 2018 trata a loucura da jovem como a única justificativa possível para denúncias feitas e consideradas inadequadas pela própria mãe, afinal, o homem que Maria acusa, jamais seria capaz de tal ato.

Corredores é o cenário da história de Maria… que é trancada num hospício pela própria mãe após ser vítima de abuso sexual dentro de sua própria casa. Loucura atestada, a solução é entregá-la aos cuidados de Mathilda — uma mulher que não enxerga pessoas, apenas números numa folha mapeados pela condição determinada por ela e, assegurada pelo Estado que só quer se livrar de seus “doentes”.

 Anota aí, dia 24 de março, às 19h30

Carta para Mário

Olá,

Seguindo o ritmo dos desafios de escrita lançados por mim nesse 2023, venho te convidar a escrever uma Carta à Mário… de Andrade, o homem-poeta modernista, em resposta ao poema escrito por ele… e publicado no livro Paulicéia Desvairada, em 1922…

O livro é uma obra modernista, um marco na literatura brasileira e tem a cidade como tema-cenário. Somos conduzidos por uma espécie de “mapa” particular traçado pelo modernista…

No poema abaixo, você percebe as mudanças de ontem e de hoje, a força do capital que determina os rumos e compreende a polifania poética descrita pelo poeta…

O cortejo
Mário de Andrade

Monotonias das minhas retinas…
Serpentinas de entes frementes a se desenrolar…
Todos os sempres das minhas visões! “Bon Giorno, caro.”

Horríveis as cidades!
Vaidades e mais vaidades…
Nada de asas! Nada de poesia! Nada de alegria!
Oh! os tumultuários das ausências!
Paulicéia — a grande boca de mil dentes;
e os jorros dentre a língua trissulca
de pus e de mais pus de distinção…
Giram homens fracos, baixos, magros…
Serpentinas de entes frementes a se desenrolar…

Estes homens de São Paulo,
toso iguais e desiguais,
quando vivem dentro dos meus olhos tão ricos,
parecem-me uns macacos, uns macacos.

Prazo para envio-entrega: 31/03…
Envie para o nosso e-mail: scenariumlivrosartesanais@gmail.com

Coletivo de Crônicas

Scenarium

Faz tempo que a crônica faz parte da vida literária do brasileiro, e muitas vezes, lemos um pequeno texto nas redes sociais, blogs ou em folhas de revistas e jornais impressos (acredite, ainda há que pratique esse delicioso hábito) que nos faz sorrir ao nos apresentar uma crítica bem humorada da realidade.

Pensando nisso, a nossa proposta para esse Coletivo de crônicas é convidar os autores a extrair de seu cotidiano uma crônica sobre o tema que circula entre nós: o conjunto de regras que determina como nós Mulheres devemos nos comportar, agir, pensar, falar, vestir… de maneira a pontuar o nosso lugar na sociedade contemporânea, usando sempre os modelos conhecidos-antigos.

Queremos dar ao tema uma boa dose de humor sem deixar de lado a ironia, as abordagens reflexivas e as associações inusitadas.

O Coletivo reunirá 13 crônicas e será organizado por Roseli Pedroso.

Armários de Maravilhas

Olá,

Vocês sabem que eu adoro fazer convites-indecentes para os autores que convivem comigo… E dessa vez, a idéia para um Coletivo surgiu ao ler um dos blogues que acompanho há tempos e que tem um nome para lá de pitoresco que eu adoro: Frasco de Memória

O jovem Theodore Roosevelt construiu um pequeno museu no alpendre de sua casa, onde organizava e catalogava as suas colecções; o pai de Theodore fez parte do movimento que fundou o Museu Americano de História Natural.

De facto, a maioria dos museus nasceu de pequenas (ou grandes) colecções pessoais que eram guardadas em móveis chamados Armários de Maravilhas. Pretendia-se que quem os visse se maravilhasse, obviamente.

Terminei a leitura pensando em um caderno artesanal convertido em “Armário de Maravilhas” e cá estou eu a provocá-los com este desafio… porque cada um de nós tem a sua própria coleção pessoal de maravilhas: fotos, livros, cadernos ou pequenos objetos cheios de significados, aguardando o momento de serem exibidos.

Eu te convido a compartilhar: escolha o tempo, o momento e escreva… máximo de 500 palavras (pode ser menos) em formato de prosa. 

Prazo para envio-entrega: 03/03…

Envie para o nosso e-mail: scenariumlivrosartesanais@gmail.com

Coletivo O mapa de vênus

R$ 37

Olá,

Hoje é dia de sugestão de leitura aqui no blogue! E para quem gosta de poesia… a dica é o Coletivo O Mapa de Vênus… que surgiu a partir de uma missiva escrita por mim e, enviada as poetas Anna Clara de Vitto, Kátia Castañeda, Mariana Gouveia, Nirlei Maria Oliveira e Suzana Martins…

Os cadernos que compõe o livro O mapa de vênus forma feitos a partir das respostas escritas pelas poetas correspondentes, em forma de poesias… e enviadas a mm.

É um projeto que convida você, ao final da leitura, a migrar da condição de leitor para a de correspondente. Pegue papel, caneta, um envelope, de preferência feito por você mesmo… e escreva-nos a sua missiva. Será um prazer colher suas impressões ao final da leitura…

Conto, novela ou romance?

Quando eu decidi virar a página da minha realidade, migrando da psicanálise para a literatura… eu tinha uma certeza: iria escrever um romance. Mas, quando se pronunciei essa frase em voz alta, nem desconfiava que existia um sem-fim de diretrizes penduradas nela.

Tem gente que pensa naqueles livros intermináveis e pesados… com não sei quantas mil páginas. Enquanto outros, lembra-se daquelas leituras — obrigatórias — do tempo do colégio. Livros esquecidos em prateleiras… Eu pensava apenas na narrativa e no desafio que seria me dedicar a esse projeto-de-vida.

Mas, para quem está atracando na realidade literária agora, vale prestar atenção no que diz o vasto universo da literatura a respeito dos diferentes tipos de gêneros disponíveis: conto, novela e romance.

Vamos lá…

Conto

É uma narrativa curta que apresenta todos os elementos tradicionais e essencias de uma boa história: personagens, tempo, espaço, enredo e que se encaixa em qualquer gênero, como: ficção científica, policial, fantasia…

Se alguém me perguntasse, por onde eu começo: eu não titubearia em dizer: pelo conto porque é uma excelente maneira de um Autor se inaugurar no mundo literário. Você terá menos trabalho e conseguir ver o resultado da sua narrativa num espaço curto de tempo. Não quer dizer que será fácil e vai dominar o gênero em dois paragráfos. Mas te dará a exata noção das suas dificuldades e aprenderá com elas.

Uma explicadação rápida para você saber onde está pisando: o conto se caracteriza por apresentar um único conflito… o que permite que a gente se dedique a um acontecimento relevante e um clímax.

Nos cursos que ministrei, percebi que muitas pessoas confundiam conto com crônicas — gêneros totalmente diferentes. A crônica é uma opinião — quase sempre bem humorada — de um fato cotidiano e costuma ter prazo de validade curto. Embora no Brasil, crônicas escritas nos anos 1940 continuam atuais, como se tivessem sido escritas pela manhã. Mas não era para isso acontecer. É a velha mania das pessoas reciclarem temas, requentando-os… alguém aí, gosta de café frio?

Voltando aos contos… é um gênero que aceita diálogos entre os personagens. Mas não admite opinião do autor que pode ser ou não o narrador da história. A escrita ocorre na primeira ou na terceira pessoa do singular. Mas em momento algum pode fugir do objetivo principal do conto que é contar a história.

É o contrário da crônica, onde você pode esbravejar com o mundo, deixando claro o que você pensa e sente a respeito dos “patriotas acampados na porta do quartel“… porque a crônica é um gênero que acomoda uma crítica bem feita… e você pode soltar o verbo. Esbrejar contra o mundo. Soltar os cachorros. Só não pode esquecer que, ao fazer uso da sua liberdade de expressão, não pode ofender ou agredir pessoas com o seu linguajar. Seja elegante… sempre! É a base da literatura…

No conto você precisa ser objetivo… não dar informações desnecessárias a respeito da história, não se perder e usar uma linguagem simples e natural, o mais próximo possível da sua fala cotidiana. Não inventa de incrementar o seu vocabulário. Ninguém quer ler uma história com um dicionário do lado. A idéia é se devertir com uma narrativa gostosa, que te pega pela mão e te leva para outros lugares. Uma viagem, é o que você propõe ao leitor.

Novela

Eu costumo dizer a quem me pergunta: que Novela é um conto que ficou muito grande, mas que não conseguiu ser um romance. E toda vez que digo isso… caiu na risada porque não é tão simples, mas é uma maneira rápida de definir o gênero.

A novela tem vários personagens que giram ao redor do protagonista, que é a razão da história. O ritmo da narrativa é mais acelerado e as cenas são muito importantes para esse gênero, por isso são facilmente adaptáveis para o teatro, cinema ou televisão.

No Brasil é comum as pessoas confundirem o gênero literário com as teledramaturgias produzidas pela Rede Globo que são vendidas como: novela — palavra mais simples que teledramaturgia. Você consegue imaginar o público dizendo: vou assistir a teledramaturgia das seis-sete-nove? Nem eu… Mas assistir uma boa novela produzida pela emissora te ajuda a compreender esse gênero. Na hora de criar os núcleos e as cenas.

E há um critério muito equivocado usado para determinar o gênero novela: a quantidade de páginas. Dizem que é uma espécie de limar entre cem a duzentas páginas.

Perdão Jane Austen! Eles tem essa mania de montante de páginas.

Romance

E chegamos ao gênero que eu considero o mais importante porque é o meu favorito e, sem dúvida, é mais conhecido quando se trata de literatura. Apesar do nome, aviso que história de amor não é uma exclusivamente do gênero. Romance é uma definição dada a narrativas extensas, com variados temas e seis arcos narrativos:: exposição, conflito, ação ascendente, clímax, ação descendente e resolução.

O romance apresenta muitos personagens, contando com protagonistas, antagonistas e personagens secundários — com arcos dramáticos próprios. Há inúmeros conflitos, clímax e reviravoltas.

Você precisa ter total conhecimento da vida de seus personagens. Definição dos protagonistas e antagonistas e consciência do foco narrativo: declinio, ascensão, complexa, dramática. Esse foco não pode, nem deve mudar ao longo da história. E o autor precisa deixar claro desde o primeiro parágrafo para onde vai conduir o leitor.

Para cada foco narrativo, há exemplos na literatura universal. De Flaubert e sua Madame Boavary à Jane Austen e seu Orguho e Preconceito. Romeu e Julieta de Shakespeare. Orlando de Virginia Woolf. Frankenstein de Mary Shelley — para citar alguns livros que você pode ler para se localizar na realidade literária e seus estilos…

Claro que fiz aqui um resumo… apenas para situar as diferenças existentes entre contos, novelas e romances… Recomendo que experimente cada um dos gêneros em suas leituras. Um conto delicioso de ser ler é O Gato Preto, de Edgar Allan Poe, um dos melhores nesse segmento. No gênero novela, eu recomendo a mestra Jane Austen e seu pitoresco Razão e sentimento (com tradução de Lygia Fagundes Teles) e o excelente romance: A elegância do ouriço, de Muriel Barbery…

E se quiser conversar a respeito… temos o nosso Clube de Escrita da Scenarium, onde discutimos e realizamos exercícios de escrita. Vem com a gente, os nosos encontros acontecem às segundas, das 20 às 22 horas — online…

Coletivo Nascer pela segunda vez

R$ 37

Olá,

Hoje é dia de sugestão de leitura aqui no blogue! E para quem gosta de poesia… a dica é o Coletivo Nascer pela Segunda vez… que surgiu a partir de um desafio proposto por mim, em 2021.

A idéia era construir um Livro a partir de diferentes vozes, que falassem ao leitor as emoções que apenas a poesia é capaz de orientar em linhas e versos… a partir de um tema que fala por si: nascer pela segunda vez... algo que fazemos ao despertar em uma dessas manhãs que pertencem a um dia qualquer pautado por um calendário — que um astrólogo arbitrário, inventou para o meu uso. E roda a melancolia. seu interminável fuso! — como escreveu a poeta, Cecília Meireles.

Os poetas que aceitaram o desafio… compreenderam que cada poema deveria ligar-se ao outro, como vagões de um trem. E no processo de seleção, eu me coloquei como uma locomotiva, dessas que despejam no ar um sonoro apito, avisando da partida de uns e da chegadas de outros…

Tenho uma amiga que gosta de dizer que poemas são preces e outra, que livros são presenças. Gosto imenso das duas definições… E você, em qual prefere?

Se você aceitou a minha sugestão de leitura, aproveite e fique com a pergunta em mente e veja que resposta surge ao finalizar a leitura de cada um dos cadernos que compõem o Coletivo Nascer pela segunda vez… 

Participaram do Coletivo: Adriana Teixeira Simoni, Manoel (manogon) Gonçalves, Margarida Montejano da Silva, Nic Cardeal, Nirlei Maria Oliveira, Rozana Gastaldi Cominal e Suzana Martins…

E nesse mês de Fevereiro… a Scenarium vai sortear um exemplar de Nasce pela segunda vez no dia 28 de fevereiro. Toda compra feita coloca o seu nome na lista dos sorteio…

Leitura comentada  | Alice, uma voz nas pedras

Olá,

Temos um novo encontro marcado e dessa vez… eu e Suzana Martins iremos comentar o livro Alice, uma voz nas pedras… de minha autoria.

O romance escrito por mim e publicado em 2020 conta a história da jovem Alice, uma menina sonhadora que desde a infância deseja encontrar o seu par e ouvir dele um romântico pedido de casamento. E o sonho vira realidade. Mas no meio do caminho, os abusos e a violência cometidas pelo marido, faz da vida de Alice um pesadelo…

Alice, uma voz nas pedras não é leitura fácil! Mas os elementos destacados: marido-esposa, sonho de princesa, conto de fadas, desejos e vontades nos coloca para pensar em como os modelos estão errados e as fórmulas incorretas. Em pleno século XXI, ainda chafurdamos no atraso quando se trata do lugar da mulher e do homem na sociedade.

 Anota aí, dia 17 de fevereiro, às 19h30

plural  | desvairada

Scenarium

A Plural surgiu muito antes da Scenarium. Era outra proposta-idéia. O ano era 2012 e eu flertava com a idéia de publicação alternativa… Eu me sentia atraída por cadernos de apontamentos —, onde as páginas funcionam como uma espécie de depoimento do artista…

A primeira edição foi rústica, impressa em formato A4, grampeada nas laterais. Ano após ano… a idéia-proposta se renovava, se reinventava… se construía e descontruía… Foi assim ao longo de 09 deliciosos anos.

Arquitetavámos a cada nova edição… um coletivo de experimentações.

A Plural foi desde o inicio uma publicação independente que passou a ser um projeto Scenarium em 2015… sendo um caminho para discutir a literatura contemporânea e seus muitos nomes…

Falamos de tudo… provocamos incêndios e atiçamos labaredas. Chacoalhamos galhos depois da chuva. Pisamos poças no meio da rua. Chafurdamos na lama…

Plural Desvairada será composta por um pitoresco conjunto de cadernos de: poesias, contos, crônicas e correspondência…

Queremos falar de temas proibidos, indigestos e necessários…

A idéia é fazer barulho no papel...