corpos-multidão
quando falo dos corpos na multidão
:apenas ausências
:não é rebanho
gado ovelha cordeiro
todas as gentes
juntascoladasgrudadas
alma coletiva
carne VIVA
amorfo plural multifacetad
é a quentura das ruas
— agora vazias —
desejosansiedadeagonia
das ruas e suas fervuras
de gente que cola
na gente que
conforta e reconfigura
a gente
voo curto
o amor foi abatido em pleno voo
era precoce de afeto
morreu de metáforas gastas
no epitáfio
aqui jaz
foda-se
já era
para o presente
I
embrulha
sua
solidão
em
pacotes
descartáveis
II
desembrulha
afetos
recíprocos
em
grandes
partições
samba da dama
carrego nas costas doces bagagens
embornal de vida vivida abarrotado
de cheiro do mato
de cantos, rezas, novenas festivas
folias de reis
e ervas das benzedeiras
Samba da Dama
sal e doce é o império da
Serrinha, Serrano de
Ivone
rainha, dama, guerreira
diva Lara e lira
música no sangue
samba, partido-
alto
palavra e voz, compôs
na ala dos nobres
alada
à frente e enfrente
dos homens do samba
reinou
fez seu enredo de mulher
do samba
acordei com fome
sentada no cimento frio
devoro palavras e mais palavras
mastigo e engulo
vagarosamente
limpo a boca
e bebo mais vinho
a poesia resiste
Nirlei Maria Oliveira… poeta e Bibliotecária com mestrado em Ciência da Informação, reside em Campinas, SP. Autora do livro de poemas Palav(Ar) (2021). Organizadora das coletâneas: Quarentena Poética (2020) e Cotidiano, Poesia, Resistência(2021).
Tem poemas publicados nas revistas: Travessias Literárias, Cult — Lugar de Fala, Literatura e Fechadura, A Palavra No Agora do Museu da Língua Portuguesa, Literatura Brasileira no XXI, Partilhas Poéticas do Museu Ema Klabin, Acrobata, Tamarina Literária, Aboio, Ser MulherArte, Ruído Manifesto, Sucuru, Errancia (Universidade Nacional Autônoma do México), Desvario, Entreverbo, Revista Toma Aí Um Poema!, Kuruma’tá — Revista De Culturas E Afetos, Caderno Literário Pragmatha.
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