o gosto do sol
escorrendo pela pele
goteja verão
as folhas no chão
anunciam a estação
hora de mudar
o inverno traz chuva
e certos transbordamentos
acontecem dentro
mulher infinita
um mar florido navega
prima que é do vento
comigo ninguém pode
Queriam-me limitada
caixinha de ritos,
conjunto de regras,
da ternura e poesia apartada.
Queriam-me educada
pra ser sempre pedra fria:
imóvel na praia
a aguardar o impulso
que me moveria.
O acento em meu nome
não me proparoxítona!
Por vezes me chamam Flá
mas há sempre uma via.
Percorro-me de todo jeito,
até trechos que desconheço.
Nesta Rota 43,
é no presente que me vejo.
Atire a primeira pedra
quem teve pretérito perfeito,
equívocos-aprendizado
jamais serão defeitos.
Buscando pavimentar o barro
que nos fez atolar no passado,
paralelepípedos instalados,
da lama que incomodou
fica só o legado.
E mesmo quando Vinha,
em nada sou diminutiva.
Sinto muito por quem lamenta
Deus ter me feito intensa.
Acolho-me, aceito-me,
(im)perfeita presença.
Por muito tempo silenciada,
sofri demais de auto-asfixia.
Se Rupi de tabus fez poesia,
por que calar eu deveria?
Prefiro ser eu mesma
e por vezes incomodar,
que me sustentar em mentiras,
ser comigo injusta pra agradar.
Quem fala erudito
mas não sabe discordar,
ignora a habilidade
de com a diversidade dialogar.
Morar em bolha ou armadura
e se valer de inverdades
é vencer de xeque-mate?
Ou usar do poder e se enganar,
é perder feio o combate?
Em defesa da míope razão,
vale distorcer a realidade?
No embalo de música boa
é a flecha do amor que lanço.
Não vago no lume, danço.
Até quando perco, eu ganho.
Por isto não (des)espero
e mesmo dorida, esperanço.
E o AR ascendente geminiano
apazigua ou alimenta meu FOGO ariano?
Cá na minha terra
planto palavras-limite
auto amor é ouro
Sigo pela vida
Escrevendo minha história
Rascunho não há
Flávia Côrtes é de Salvador/BA e é intensa por natureza. Servidora pública como Drummond, tem orgulho de poder também fazer diferença nesta posição. Herdou das mulheres fortes de sua família sua grande Fé na Vida e, após longo período de aridez, redescobriu o poder de sua voz. Integra a Cia Subversiva de Dizedores de Versos, o Coletivo Nua Palavra. Participa de diversas antologias e coletâneas como coautora e em 2022 estreou como organizadora de obras coletivas. Para ela a conexão com Deus e consigo mesma é o que dá sentido à vida e a faz perceber as flores no caminho. A escrita? Considera-a um instrumento de autoconhecimento e cura.
A arte salva!
Ameiiiii.
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