Emily Dickinson
How slow the Wind —
How slow the sea —
How late their Feathers be!
—
Emily Elizabeth Dickinson nasceu em Amherst — uma pequena cidade do Estado de Massachusetts, no interior de Boston — a 10 de dezembro de 1830 e ali morreu em 15 de maio de 1886. Se não tivesse deixado mais de mil poemas escritos, nada mais teríamos a dizer da Mulher que foi considerada excêntrica pela “crítica especializada”.
Os biógrafos têm feito o (im)possível para preencher as lacunas existentes… Mas, as muitas perguntas que surgm seguem sem respostas. Muito se fala do isolamento da Mulher, pouco vista, tímida e que se vestia de branco, tinha paixão por flores e o hábito de fazer bolos. Um dos temas que dominam as conversas a respeito de Emily é doença que a acometeu.
Tenta-se saber quem foram seus pares, referências e possíveis pretendentes. Ela viveu em um tempo em que as damas dependiam de propostas. Mas, a mulher-poeta não se casou… Sua irmã Lavínia teve igual destino e, após a morte de Emily, permaneceu na casa para pasmar-se com a papelada imensa, deixada pela irmã-poeta.
Apenas sete poemas — tremendamente e desalentadoramente corrigidos — foram publicados em vida. E ninguém imaginava que havia um espólio de aproximadamente 30 anos de ininterrupta escrita daquela mulher pequenina, de quem a sobrinha, em 1931, recordava: “tinha os olhos negros, a pele branca, o cabelo ticianesco e a voz grave e profunda“.
Emily morreu na condição de ilustre desconhecida e permaneceu no limbo literário por muito tempo… Até que publicaram em 1890 poems by Emily Dickinson — o que eu não tenho problema nenhum em afirmar que, melhor seria, se não o tivessem feito.
A edição é uma falsificação, um engodo-equivoco. Onde a métrica era livre, corrigiram. Onde as rimas inexistiam, forçaram-na. Onde a densidade e a obscuridade emerge, afundaram-na — até títulos foram dado aos poemas, coisa nunca vista na poesia de Emily que acabou convertida em boa moça aos olhos dos poucos leitores que debruçaram o olhar naquelas estranhas linhas. E a “crítica especializada” com a poesia masculina foi impiedosa.
Emily era excêntrica em relação às correntes literárias de sua época. Escreveu por escrever somente, sem repetir estilos ou acompanhar as tendências. Sua escrita era simples, uma espécie de meditação feita nas horas que antecederam o seu encontro com o pena, quando se ocupava apenas de dizer-se ao papel.
E esquecida estava — mas não para sempre… Em 1929 a atmosfera era outra… Havia a resolução poética do pós-guerra e a poesia de Emily reaparece em further poems. A busca pelo espólio da poeta tem inicio e não para mais… Os mistérios acendem o interesse dos leitores, ávidos por descobrir quem escreveu poemas tão poderosos. Traduzida para vários idiomas, inclusive o italiano… A poesia de Emily deixou o silêncio das gavetas onde foram deixadas para povoar as páginas dos inúmeros livros publicados…
Rica – me ensinastes – pobreza!
Eu mesma – com “Donaires”
De dama – que toda Menina –
Ostenta – uma “Buenos Ayres” –
Estendestes teus Domínios –
Ao Peru – Antigo –
Estimei – toda pobreza –
Imóvel de Viver – contigo!
De “Minas” – pouco sei –
Apenas os nomes – das Gemas –
As Cores – das mais Comuns –
Uns poucos Diademas –
Tanto – que encontrei A Rainha –
Devia saber – sua glória –
Mas esta – é uma outra riqueza –
Mendigos sabem – a história!
Certo – é uma “Índia” – todo dia –
A quem vê o rosto teu –
Sem parcelas – sem queixas –
Só posso ser – o teu Judeu!
Sei que é uma “Golconda” –
Pra tal sonho – sou pequena –
Ter um sorriso – teu – e sempre –
Muito melhor – que uma Gema!
Ao menos – consola – saber –
Que lá existe – um Ouro –
Embora eu saiba, a tempo –
A distância – do Tesouro!
Longe – longe – não agarro –
Esta pérola – não se estima –
Que escorreu-me entre os dedos –
Ainda – na escola – de Menina!
Querida Sue –
Como vês
Eu me lembro.
……….Emily
[1862]
Morrer por ti era pouco.
Qualquer grego o fizera.
Viver é mais difícil —
É esta a minha oferta —
Morrer é nada, nem
Mais. Porém viver importa
Morte múltipla — sem
O Alívio de estar morta.
Que maravilha! Duas poetas entrelaçam-se por meio das nuanças dos próprios tempos. Ambas, cada uma a seu modo, debruçadas sobre a mesma questão: Quando haverá vida viva?
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Palavras delicadas que traduzem muito da alma dessa mulher que sentia a poesia como uma forma de viver. Seu texto soa como música.
Nesse tempo, onde as pretensões de sucesso podem ferir de morte o semelhante é encantador saber de alguém que se relacionou consigo mesma e com o mundo de forma despretensiosa.
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Ah menina Lunna, o Tempo é a força des-medida de todas as coisas. Quando leio uma missiva igual a essa… o tempo para…
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Suspirei aqui ao ler essa sua missiva para a sua poeta favorita.
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Que texto maravilhoso Lunna! Tuas palavras sempre me encantam e me inspiram!
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Republicou isso em O Outro Ladoe comentado:
Das cartas que escrevi…
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Sempre fico honrada com seus convites! Grazie!
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