Paulistana da gema, nasci no bairro da Bela Vista. Passei por outros bairros, mas sempre vivi em apartamentos, e, talvez por isso, adoro olhar a cidade do alto, apreciando a combinação de pessoas, ruas, árvores,… Mais
Quatro poemas de Nirlei Maria Oliveira

Sou aquariana que gosta de viver nas dobras das nuvens para sentir as asas e o cheiro inebriante da liberdade.
Apresenta sérias dificuldades para manter os pés no chão. Prefere sonhar acordada ou fantasiar-se de Alice no País das Maravilhas para brincar nos jardins do mundo real.
insônias e rotinas
horas tardias
não há ninguém — lá fora —
— o silêncio persiste —
olhos postos na janela a pressentir — o tempo —
a enfrentar lonjuras e pensamentos dispersos
e, ainda assim, mirar e mirar
a paisagem — mundo — de nós
no tom sépia dos retratos
valiosas urgências e emergências
sejam estas: contar
e recontar — estrelas e lua
quase dormir e amanhecer com olhos de ontem
ocupar-se com as miudezas diárias
e tragar o amargo da rotina
não aprendo a conviver com as horas
insones e dias iguais
(prefiro o brilho da lua e das estrelas
ao ofício das repetições)
gatos rondam a rua
sintomas, apenas sintomas
de alegria
de euforia
de alforria
assim, amanheço
revestida deste sol insistente de quase 10h
que entra pelas janelas abertas e se
espalha pelo quarto
preciso
habitar as urgências das manhãs
como quem volta da guerra
com sede voraz de viver — o hoje —
vestida para:
atravessar armada de versos
— as ausências —
encher a boca
com versos entre os afiados dentes
morder palavras inquietas e observar a paisagem morna
que entra pelas minhas retinas, ainda sonolentas
ainda assim, sigo rituais das manhãs:
repetição repetição repetição
quem sabe o sagrado permanece
queimar velas e incensos para os anjos e
para os vivos
assim, apenas assim, o dia começa
despeço da casa
pés na soleira da porta
ir sair partir ir
gatos rondam a rua
cumplicidade e silêncio
Dos ritos
ritos primeiros
amanhecer os desejos
e romper o riso
jogar dados com o tempo
e perder
o rumo o ponto a linha
o siso o sono e as horas
ancorar os dias
em horizontes sem bordas
rasantes ou minguantes
desaguar vontades em solos
porosos e férteis
rito solene
beber o sol lentamente
quebrar a taça e rir das (in)certezas
rito perene
o cotidiano
— é para ser brincante —
Brotos botões rebentos
caminhamos pelas bordas — tempo suspenso —
andamos incautos por margens e fronteiras
tudo é incerteza na — soleira do amanhã —
a luz
— insurgente —
reverbera nos vãos e desvãos do agora
— lá fora —
pela janela aberta minhas retinas turvam
explodem rebentos de flores
— rebentação —
ainda há tempo para destorroar a terra
— nada brota sem semeadura —


Marielle… presente!
“Eu enquanto favelada, eu enquanto vereadora, que sei que desde a minha época de pré-vestibular comunitário, quando tive que fazer mais pré porque as escolas da região não me davam condições de tá nas Universidades Públicas, já sabia que isso era político”.
Marielle Franco
1979 — 2018
Cinco anos se passaram… e a pergunta ressooa, sem respostas. Foi-se a Mulher. Mas não foi em vão. Sua luta se tornou herança de muitas outras…
E neste 14 de março (que soube ser o dia nacional da Poesia) convido você a leitura dos textos escritos ontem e hoje por encomeda para um projeto que é memória para que a gente nunca se esqueça que a luta continua por ela e por todas nós…
Boa leitura…
Três poemas de
Adriana Aneli


Um grito…
Uma missiva para Marielle


Dois poemas de
Nic Cardeal
Uma crônica de
Obudlio Nuñes Ortega

Coluna Plural | Noturno
Quando garotinho, nossa mãe nos acordava à 4h30 da manhã para tomarmos café. Eu dormia no corredor, numa cama de molas, a qual desmontava, deixava num canto e vestia a roupinha para irmos, meus irmãos e eu, ao Parque Infantil da Barra Funda. Na Periferia de poucas luzes, a escuridão imperava e as estrelas brilhavam como nunca mais na minha vida. Íamos pegar o ônibus já lotado às 5h30. Nesse horário, a noite ainda vencia o dia e somente no verão éramos acompanhados pelas primeiras luzes.
Desde então, já dormia pouco. Costumava ficar deitado na laje vendo as estrelas tremeluzirem seu passado. Atividade que só trocava por programas musicais ou filmes de ação na TV PB de 14”. Nunca supus que no futuro a minha atividade seria eminentemente noturna, mas na adolescência só dormia com as primeiras luzes. Passava o silêncio a ser preenchido com os sons das palavras que brotavam em minha mente e escorriam por minhas mãos e dedos para os papéis transbordados de sentenças definitivas.
O pretenso escritor sentia como se a noite abençoasse as suas frases feitas de estrelas e cantos de galos, muito comuns naquela época. Por eles, conseguia marcar o tempo – 4h… 5h… e sol a me pedir que dormisse. Estudava à tarde. Nunca saía para lugar algum, a não ser para dentro de mim, onde escondia os meus segredos testemunhados pela noite que eu considerava uma entidade – com corpo, intenções e entendimentos.
Filho da noite, à mãe compreensiva confessava a razão de temer tanto às mulheres. Os meus amores infrutíferos, feitos para acabar, jaziam num canto sob pilhas de cadernos em que os vivia profundamente. Amá-las sem conhecê-las salvava a minha dignidade das objeções por ser tão canhestro. Quando a lua surgia, sabia que era aceito e eu a namorava recebendo beijos em meus olhos…
Obdulio Nuñes Ortega — deu-se que refugiados da Guerra Espanhola aportassem no Brasil e dentre seus frutos, uma moça uniu-se a um gentio da terra nova, refugiado do sul do continente. Geraram um brasileiro desorientado do sentido da vida e desequilibrado por força da Balança que o rege. Supera seus íntimos mistérios, os expondo a quem quiser lês-los, no cenário da palavra. Acredita ser escritor, o melhor que puder ser tendo como base a si mesmo. Espera não alcançar a eternidade, mas sabe-se infinito.
Para adquiri o seu livro de poesias Confissões, clique aqui…
Três poemas de Rozana Gastaldi Cominal

Mantém os sentidos em alerta: Eu vejo. Sinto. Vivo. Ufa! Respiro. E não piro. Suspiro! Escreve porque sonha com uma sociedade menos desigual onde o respeito mútuo seja a base do diálogo, onde a poesia e a sororidade estejam na ordem do dia. Acredita na força dos coletivos e com eles faz voz. Autora do livro de poesias “Mulheres que voam” , Scenarium, 2022. Participou dos Coletivos da Scenarium Nascer pela segunda vez (2021), Andarilha e da edição da Revista Plural Cartografias das sombras (2022).
Facebook: https://www.facebook.com/rozana.cominal
Instagram: https://www.instagram.com/rozanagastaldi/
violeta & malagueta
consumo-me em atitudes
e sentimentos adversos
penso
não ando
estanco
sinto
movo
removo o flanco
metamorfose dialética
violeta e malagueta
genial e geniosa
estupenda e estúpida
eufórica e neurótica
sensual e sexual
razão enigmática
consinto que sou volúvel
mas não irresponsável
assumo o que sou
assumo o que faço
não é por acaso
que tenho um caso
com o caos
Do livro Mulheres que voam
Ao renascer
conecto-me com o universo ao redor
Outra vez em guarda e (or)ação
sobrevivente sou
vidas que esgarçam e entrelaçam
Do Coletivo Nascer pela Segunda vez
trajetória insubmissa
corpo leve
circunscreve
branco como neve
ultraleve
peso pesado
lesado
caminho tortuoso
que se lança
que dança
que tensiona
que flutua
que insinua
tela escultural
forma harmoniosa
coluna vertebral
geometria sinuosa
curva espiral
corpo que pensa


Leitura comentada | Corredores, codinome: loucura
Olá,
Acabou o Carnaval (eu acho) e aterrisamos em Março… espero que esteja pronto para as novidades. Começaremos com um novo e delicioso encontro com o livro Corredores, codinome: loucura… da querídissima Mariana Gouveia. Eu e a Suzana Martins já estamos ansiosas para comentar o livro que conta a história da jovem Maria, uma menina vítima de abuso dentro de casa e que ao gritar e espernear, denunciando o padrastro, acaba sendo levada para um Hospício, onde o horror ganha nova definição.
O romance, publicado em 2018 trata a loucura da jovem como a única justificativa possível para denúncias feitas e consideradas inadequadas pela própria mãe, afinal, o homem que Maria acusa, jamais seria capaz de tal ato.

Corredores é o cenário da história de Maria… que é trancada num hospício pela própria mãe após ser vítima de abuso sexual dentro de sua própria casa. Loucura atestada, a solução é entregá-la aos cuidados de Mathilda — uma mulher que não enxerga pessoas, apenas números numa folha mapeados pela condição determinada por ela e, assegurada pelo Estado que só quer se livrar de seus “doentes”.
Anota aí, dia 24 de março, às 19h30
Carta para Mário
Olá,
Seguindo o ritmo dos desafios de escrita lançados por mim nesse 2023, venho te convidar a escrever uma Carta à Mário… de Andrade, o homem-poeta modernista, em resposta ao poema escrito por ele… e publicado no livro Paulicéia Desvairada, em 1922…
O livro é uma obra modernista, um marco na literatura brasileira e tem a cidade como tema-cenário. Somos conduzidos por uma espécie de “mapa” particular traçado pelo modernista…
No poema abaixo, você percebe as mudanças de ontem e de hoje, a força do capital que determina os rumos e compreende a polifania poética descrita pelo poeta…
O cortejo
Mário de Andrade
Monotonias das minhas retinas…
Serpentinas de entes frementes a se desenrolar…
Todos os sempres das minhas visões! “Bon Giorno, caro.”
Horríveis as cidades!
Vaidades e mais vaidades…
Nada de asas! Nada de poesia! Nada de alegria!
Oh! os tumultuários das ausências!
Paulicéia — a grande boca de mil dentes;
e os jorros dentre a língua trissulca
de pus e de mais pus de distinção…
Giram homens fracos, baixos, magros…
Serpentinas de entes frementes a se desenrolar…
Estes homens de São Paulo,
toso iguais e desiguais,
quando vivem dentro dos meus olhos tão ricos,
parecem-me uns macacos, uns macacos.
Prazo para envio-entrega: 31/03…
Envie para o nosso e-mail: scenariumlivrosartesanais@gmail.com
Coletivo de Crônicas
Scenarium
Faz tempo que a crônica faz parte da vida literária do brasileiro, e muitas vezes, lemos um pequeno texto nas redes sociais, blogs ou em folhas de revistas e jornais impressos (acredite, ainda há que pratique esse delicioso hábito) que nos faz sorrir ao nos apresentar uma crítica bem humorada da realidade.
Pensando nisso, a nossa proposta para esse Coletivo de crônicas é convidar os autores a extrair de seu cotidiano uma crônica sobre o tema que circula entre nós: o conjunto de regras que determina como nós Mulheres devemos nos comportar, agir, pensar, falar, vestir… de maneira a pontuar o nosso lugar na sociedade contemporânea, usando sempre os modelos conhecidos-antigos.
Queremos dar ao tema uma boa dose de humor sem deixar de lado a ironia, as abordagens reflexivas e as associações inusitadas.
O Coletivo reunirá 13 crônicas e será organizado por Roseli Pedroso.
Armários de Maravilhas
Olá,
Vocês sabem que eu adoro fazer convites-indecentes para os autores que convivem comigo… E dessa vez, a idéia para um Coletivo surgiu ao ler um dos blogues que acompanho há tempos e que tem um nome para lá de pitoresco que eu adoro: Frasco de Memória…
O jovem Theodore Roosevelt construiu um pequeno museu no alpendre de sua casa, onde organizava e catalogava as suas colecções; o pai de Theodore fez parte do movimento que fundou o Museu Americano de História Natural.
De facto, a maioria dos museus nasceu de pequenas (ou grandes) colecções pessoais que eram guardadas em móveis chamados Armários de Maravilhas. Pretendia-se que quem os visse se maravilhasse, obviamente.
Terminei a leitura pensando em um caderno artesanal convertido em “Armário de Maravilhas” e cá estou eu a provocá-los com este desafio… porque cada um de nós tem a sua própria coleção pessoal de maravilhas: fotos, livros, cadernos ou pequenos objetos cheios de significados, aguardando o momento de serem exibidos.
Eu te convido a compartilhar: escolha o tempo, o momento e escreva… máximo de 500 palavras (pode ser menos) em formato de prosa.
Prazo para envio-entrega: 03/03…
Envie para o nosso e-mail: scenariumlivrosartesanais@gmail.com
Em arcos
Coletivo O mapa de vênus

R$ 37
Olá,
Hoje é dia de sugestão de leitura aqui no blogue! E para quem gosta de poesia… a dica é o Coletivo O Mapa de Vênus… que surgiu a partir de uma missiva escrita por mim e, enviada as poetas Anna Clara de Vitto, Kátia Castañeda, Mariana Gouveia, Nirlei Maria Oliveira e Suzana Martins…
Os cadernos que compõe o livro O mapa de vênus forma feitos a partir das respostas escritas pelas poetas correspondentes, em forma de poesias… e enviadas a mm.
É um projeto que convida você, ao final da leitura, a migrar da condição de leitor para a de correspondente. Pegue papel, caneta, um envelope, de preferência feito por você mesmo… e escreva-nos a sua missiva. Será um prazer colher suas impressões ao final da leitura…
Conto, novela ou romance?
Quando eu decidi virar a página da minha realidade, migrando da psicanálise para a literatura… eu tinha uma certeza: iria escrever um romance. Mas, quando se pronunciei essa frase em voz alta, nem desconfiava que existia um sem-fim de diretrizes penduradas nela.
Tem gente que pensa naqueles livros intermináveis e pesados… com não sei quantas mil páginas. Enquanto outros, lembra-se daquelas leituras — obrigatórias — do tempo do colégio. Livros esquecidos em prateleiras… Eu pensava apenas na narrativa e no desafio que seria me dedicar a esse projeto-de-vida.
Mas, para quem está atracando na realidade literária agora, vale prestar atenção no que diz o vasto universo da literatura a respeito dos diferentes tipos de gêneros disponíveis: conto, novela e romance.
Vamos lá…
Conto
É uma narrativa curta que apresenta todos os elementos tradicionais e essencias de uma boa história: personagens, tempo, espaço, enredo e que se encaixa em qualquer gênero, como: ficção científica, policial, fantasia…
Se alguém me perguntasse, por onde eu começo: eu não titubearia em dizer: pelo conto porque é uma excelente maneira de um Autor se inaugurar no mundo literário. Você terá menos trabalho e conseguir ver o resultado da sua narrativa num espaço curto de tempo. Não quer dizer que será fácil e vai dominar o gênero em dois paragráfos. Mas te dará a exata noção das suas dificuldades e aprenderá com elas.
Uma explicadação rápida para você saber onde está pisando: o conto se caracteriza por apresentar um único conflito… o que permite que a gente se dedique a um acontecimento relevante e um clímax.
Nos cursos que ministrei, percebi que muitas pessoas confundiam conto com crônicas — gêneros totalmente diferentes. A crônica é uma opinião — quase sempre bem humorada — de um fato cotidiano e costuma ter prazo de validade curto. Embora no Brasil, crônicas escritas nos anos 1940 continuam atuais, como se tivessem sido escritas pela manhã. Mas não era para isso acontecer. É a velha mania das pessoas reciclarem temas, requentando-os… alguém aí, gosta de café frio?
Voltando aos contos… é um gênero que aceita diálogos entre os personagens. Mas não admite opinião do autor que pode ser ou não o narrador da história. A escrita ocorre na primeira ou na terceira pessoa do singular. Mas em momento algum pode fugir do objetivo principal do conto que é contar a história.
É o contrário da crônica, onde você pode esbravejar com o mundo, deixando claro o que você pensa e sente a respeito dos “patriotas acampados na porta do quartel“… porque a crônica é um gênero que acomoda uma crítica bem feita… e você pode soltar o verbo. Esbrejar contra o mundo. Soltar os cachorros. Só não pode esquecer que, ao fazer uso da sua liberdade de expressão, não pode ofender ou agredir pessoas com o seu linguajar. Seja elegante… sempre! É a base da literatura…
No conto você precisa ser objetivo… não dar informações desnecessárias a respeito da história, não se perder e usar uma linguagem simples e natural, o mais próximo possível da sua fala cotidiana. Não inventa de incrementar o seu vocabulário. Ninguém quer ler uma história com um dicionário do lado. A idéia é se devertir com uma narrativa gostosa, que te pega pela mão e te leva para outros lugares. Uma viagem, é o que você propõe ao leitor.
Novela
Eu costumo dizer a quem me pergunta: que Novela é um conto que ficou muito grande, mas que não conseguiu ser um romance. E toda vez que digo isso… caiu na risada porque não é tão simples, mas é uma maneira rápida de definir o gênero.
A novela tem vários personagens que giram ao redor do protagonista, que é a razão da história. O ritmo da narrativa é mais acelerado e as cenas são muito importantes para esse gênero, por isso são facilmente adaptáveis para o teatro, cinema ou televisão.
No Brasil é comum as pessoas confundirem o gênero literário com as teledramaturgias produzidas pela Rede Globo que são vendidas como: novela — palavra mais simples que teledramaturgia. Você consegue imaginar o público dizendo: vou assistir a teledramaturgia das seis-sete-nove? Nem eu… Mas assistir uma boa novela produzida pela emissora te ajuda a compreender esse gênero. Na hora de criar os núcleos e as cenas.
E há um critério muito equivocado usado para determinar o gênero novela: a quantidade de páginas. Dizem que é uma espécie de limar entre cem a duzentas páginas.
Perdão Jane Austen! Eles tem essa mania de montante de páginas.
Romance
E chegamos ao gênero que eu considero o mais importante porque é o meu favorito e, sem dúvida, é mais conhecido quando se trata de literatura. Apesar do nome, aviso que história de amor não é uma exclusivamente do gênero. Romance é uma definição dada a narrativas extensas, com variados temas e seis arcos narrativos:: exposição, conflito, ação ascendente, clímax, ação descendente e resolução.
O romance apresenta muitos personagens, contando com protagonistas, antagonistas e personagens secundários — com arcos dramáticos próprios. Há inúmeros conflitos, clímax e reviravoltas.
Você precisa ter total conhecimento da vida de seus personagens. Definição dos protagonistas e antagonistas e consciência do foco narrativo: declinio, ascensão, complexa, dramática. Esse foco não pode, nem deve mudar ao longo da história. E o autor precisa deixar claro desde o primeiro parágrafo para onde vai conduir o leitor.
Para cada foco narrativo, há exemplos na literatura universal. De Flaubert e sua Madame Boavary à Jane Austen e seu Orguho e Preconceito. Romeu e Julieta de Shakespeare. Orlando de Virginia Woolf. Frankenstein de Mary Shelley — para citar alguns livros que você pode ler para se localizar na realidade literária e seus estilos…
Claro que fiz aqui um resumo… apenas para situar as diferenças existentes entre contos, novelas e romances… Recomendo que experimente cada um dos gêneros em suas leituras. Um conto delicioso de ser ler é O Gato Preto, de Edgar Allan Poe, um dos melhores nesse segmento. No gênero novela, eu recomendo a mestra Jane Austen e seu pitoresco Razão e sentimento (com tradução de Lygia Fagundes Teles) e o excelente romance: A elegância do ouriço, de Muriel Barbery…
E se quiser conversar a respeito… temos o nosso Clube de Escrita da Scenarium, onde discutimos e realizamos exercícios de escrita. Vem com a gente, os nosos encontros acontecem às segundas, das 20 às 22 horas — online…
Confissões
Leitura comentada | Alice, uma voz nas pedras
Olá,
Temos um novo encontro marcado e dessa vez… eu e Suzana Martins iremos comentar o livro Alice, uma voz nas pedras… de minha autoria.
O romance escrito por mim e publicado em 2020 conta a história da jovem Alice, uma menina sonhadora que desde a infância deseja encontrar o seu par e ouvir dele um romântico pedido de casamento. E o sonho vira realidade. Mas no meio do caminho, os abusos e a violência cometidas pelo marido, faz da vida de Alice um pesadelo…

Alice, uma voz nas pedras não é leitura fácil! Mas os elementos destacados: marido-esposa, sonho de princesa, conto de fadas, desejos e vontades nos coloca para pensar em como os modelos estão errados e as fórmulas incorretas. Em pleno século XXI, ainda chafurdamos no atraso quando se trata do lugar da mulher e do homem na sociedade.
Anota aí, dia 17 de fevereiro, às 19h30
Desvairada
plural | desvairada

Scenarium
A Plural surgiu muito antes da Scenarium. Era outra proposta-idéia. O ano era 2012 e eu flertava com a idéia de publicação alternativa… Eu me sentia atraída por cadernos de apontamentos —, onde as páginas funcionam como uma espécie de depoimento do artista…
A primeira edição foi rústica, impressa em formato A4, grampeada nas laterais. Ano após ano… a idéia-proposta se renovava, se reinventava… se construía e descontruía… Foi assim ao longo de 09 deliciosos anos.
Arquitetavámos a cada nova edição… um coletivo de experimentações.
A Plural foi desde o inicio uma publicação independente que passou a ser um projeto Scenarium em 2015… sendo um caminho para discutir a literatura contemporânea e seus muitos nomes…
Falamos de tudo… provocamos incêndios e atiçamos labaredas. Chacoalhamos galhos depois da chuva. Pisamos poças no meio da rua. Chafurdamos na lama…
Plural Desvairada será composta por um pitoresco conjunto de cadernos de: poesias, contos, crônicas e correspondência…
Queremos falar de temas proibidos, indigestos e necessários…
A idéia é fazer barulho no papel...
Em branco
Leitura comentada | O amor sem mestre
Olá,
Estamos de volta e no melhor estilo… com o nosso encontro mensal: Leitura comentada. E par começar oo primeiro capítulo de 2023, eu e Suzana Martins iremos comentar (na próxima sexta-feira, às 19h30) o livro O amor sem mestre… um conto de fadas as avessas, onde o Príncipe vira um Sapo.
Na ficção curta escrita por Flávia Côrtes, a personagem da trama, acredita estar diante de um homem maravilhoso — o melhor dos espécimes. O desejo de ser amada e de se sentir desejada — que habita na maioria das mulhers — impede Luziana de perceber a emboscada que é relacionar-me com um suposto Príncipe…

“O Amor sem mestre” conta a história de uma jovem romântica. Luziana, como muitas meninas apaixonadas, imaginava viver um conto de fadas. Mas a carruagem virou abóbora muito antes da meia-noite. Sem fada madrinha ou sapatinho de cristal, ela precisou encarar o sapo que beijou pensando ser um homem.
Anota aí, dia 20 de janeiro, às 19h30
Desafio de Poesias eróticas
Scenarium
Deixe a sua poesia seguir o caminho da pele, através do desejo e nos conduza pelas fantasias da matéria e a sensualidade da alma. para o nosso imaginário…
No Coletivo Liláses, que será o primeiro a celebrar a poesia erótica, queremos o belo, no auge de sua voz poética.
Participe com a sua poesia… seja pele-avesso-desejo!
Organização. Lunna Guedes
Qual ano deixaremos para trás?
Olho no calendário na parede da cozinha e vejo as marcas nele. Com círculos em algumas datas marquei dias que vivi. O dia em que a suculenta deu flor pela primeira vez. Se bem, que alguns ficarão na memória para sempre. Estão marcadas as trocas do gás — foram 6 ao longo do ano. O dia da super lua, do eclipse e do aniversário do Chiquinho.
Parece que foi ontem que janeiro começou e tudo que eu queria era renovar a esperança. E já é dezembro de novo. E quais os planos que fiz e não cheguei a cumprir? Eu pedi e desejei saúde, dias felizes, mais amor, respeito… E não dá para não rir das frases clichês. Nem ouso fazer promessas… Elas ficam suspensas em meses adiados. Percebi isso assim que me tornei adulta.
Eu lembro dos trabalhos que fiz… Dos que tive de interromper por algum motivo e da saudade sentida dos que foram.
Quando eu trocar a folhinha velha pela nova, o ano de 2022 será passado e não posso dizer que sentirei saudades. Que ano estarei abandonando quando 31 de dezembro cerrar o dia?
Só me lembrarei dos banhos na chuva, do ipê que floriu cinco vezes nesse ano e das brincadeiras com os sobrinhos.
Um dia se intercala no outro e, de repente, será um ano novo, com suas nuances de velho, de antigo, de lembranças. Mas ainda restam alguns dias para viver — antes de abandonar esse 2022 de caos e esperar pelo 2023 com a esperança renovada.
Antes, irei ali… onde me chamaram para brincar de amarelinha e eu aceitei a brincadeira no ato e tenho uma pedra em mãos. Vem comigo? E traga uma pedra e muita disposição.
Mariana Gouveia... pessoa adoradora de lua, borboletas e joaninhas. É dona de um beija-flor chamado Chiquinho que em algumas noites dorme em suas mãos. É a humana de Lolla e Yoshi, os cães que domaram seu coração para além dos voos. Sonha com os pés no chão. É marítima sem nunca ter conhecido o mar. É de rio e de terra. Do ar e do vento…Tem horas que pensa que é apenas uma, mas acontece que dentro dela moram várias…
O ano do fim das ilusões
Marcamos o encerramento de um texto com o ponto final ou reticências… Porém, assim como pretende expressar o sinal de reticências, a repercussão da sua leitura poderá se espraiar para além dele. Lavoisier decretou definitivamente através da palavra a substância de nossa existência para além da composição-decomposição químico-física do mundo que nos rodeia, aqui dentro e além, fora: ”Na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. E, apesar de inúmeras vezes não nos vincularmos a ela, somos resultado de experiências naturais de milhões de anos na Terra.
Sobre o ano que termina, poderíamos perguntar: o que ele deixa de significado para a História? A minha crença é que 2022 não ficará restrito aos 365 dias que oficialmente se findará na vigésima-quarta hora do dia 31 de dezembro. Creio que águas passadas continuam a mover moinhos, por mais que a “desculpa” pronta dita por aqueles que carregam responsabilidade acrescente o “não”. Vale para os bons e os maus feitos.
Normalmente, os fatos são enganadores à primeira interpretação. Alguns malvistos de início, com o tempo demonstram-se redentores. E há aqueles recebidos como auspiciosos que no decorrer do tempo repercutem negativamente. Mais gravemente, devastam o que encontram pelo caminho como se fossem água morro abaixo ou fogo morro acima. As avaliações precipitadas são sempre enganosas. Quando as acertamos, será sempre por puro e inesperado senso de oportunidade.
Porque é assim. Eu, por exemplo, em meados de 2020, anunciei que aquele ano havia se iniciado em 2019 e, com boa sorte, terminaria em 2022. Errei. Em 2023, 2019 continuará a ditar a sua marca através da Covid. As aglomerações de final de ano deverão elevar o número de óbitos da atual média de 130 por dia. Assim como o má-administração do País, sob a égide do negacionismo com faceta fascistóide do governo central, fez eco em boa parte da população brasileira.
O que supostamente fora uma reação à corrupção institucional encontrou em um Miliciano, o paladino da justiça, carreando o ódio da Classe Média (ou que se considera como tal) às diferenças raciais e sociais imiscuídas ao ranço patriarcal que englobou a identidade de gênero, rejeição do direito das mulheres e aos que não tenham as plenas capacidades físicas e mentais. Demonstrando que somos um povo doente – pobre e elitista – como se estivéssemos presos a uma miscelânia que uniria Síndrome de Estocolmo com Munchausen – neste último caso, acresce-se o elogio à enfermidade – como bandeira.
Na falta de escolhas “corretas”, fizemos um percurso tortuoso que provavelmente é a mais acertada para 2023, politicamente. Tanto quanto em 2018, eu optei por voltar o meu olhar para a Esquerda. Ainda que saiba que no Brasil, isso não queira dizer muita coisa, já que os posicionamentos muitas vezes se mostram ambíguos. A única certeza que tenho é que a Direita é igual no mundo todo – perniciosa em manter as populações excluídas do progresso humano, em que pessoas devam ficar engessadas em um sistema de castas, como se vivêssemos no Século XVIII.
2022 nos mostrou que a guerra pode surgir em qualquer lugar. A Europa está mergulhada na luta fraticida – o pior que pode existir, por ser mais rancorosa. A luta não é apenas para ampliar as linhas fronteiriças, mas para impor a agenda de senhores saudosos de um império que não existe mais. O desejo em propagar no tempo modelos de dominação ultrapassados, baseados no orgulho da nacionalidade não tem mais sentido em um planeta tão diverso em tendências de desenvolvimento alternativos à antigos processos de governança.
Ao mesmo tempo, percebemos que a Terra precisa do esforço humano coletivo para defender o meio ambiente que sofre como nunca os efeitos da atuação equivocada das lideranças governamentais, calcada no setor econômico que busca lucro a qualquer custo. Ao fina, a conta não fecha. Ficaremos sempre no vermelho. Cada vez mais a Meteorologia será motivo de conversas entre pessoas que discutirão fenômenos climáticos como se fosse pauta obrigatória.
Economicamente, é uma questão de tempo que o Oceano Pacífico volte a ser aquele em torno e através do qual seus países assumirão o protagonismo na produção da riqueza, capitaneada pela China. Os países separados pelo Atlântico – os da América e os da Europa – com populações menores e economias empacadas, tendem a perder liderança em várias áreas de atuação planetária. Porém buscarão estabelecer uma agenda centrada na observação dos Direitos Humanos e no uso de tecnologias limpas, caminhando no sentido inverso ao de seu histórico de exploração colonialista em séculos passados. Pelos menos em aparência, é a tendência que espero ver acontecer.
O ano do fim das ilusões – título que usei para este texto – diz mais respeito ao meu desejo do que um prognóstico factual. Falam em ciclos históricos repetidos de 100 em 100 anos, mas no Brasil isso parece estar reduzido drasticamente para 20, 25 anos. Ivan Lessa, escritor já falecido, chegou a dizer que “de 15 em 15 anos, o Brasil esquece do que aconteceu nos últimos 15 anos”. Isso colabora para que, de tempos em tempos, caiamos na fossa péptica social que nos coloca em posição astral de um Mercúrio Retrógado. É como se caminhássemos passos para atrás ano após ano.
Obdulio Nuñes Ortega… deu-se que refugiados da Guerra Espanhola aportassem no Brasil e dentre seus frutos, uma moça uniu-se a um gentio da terra nova, refugiado do sul do continente. Geraram um brasileiro desorientado do sentido da vida e desequilibrado por força da Balança que o rege. Supera seus íntimos mistérios, os expondo a quem quiser lês-los, no cenário da palavra. Acredita ser escritor, o melhor que puder ser tendo como base a si mesmo. Espera não alcançar a eternidade, mas sabe-se infinito.